
Viajar em família é sinónimo de memórias inesquecíveis, mas também de logísticas desafiantes. Quando se leva crianças de férias, há que estar preparado para os imprevistos — desde febres inesperadas a picadas de insetos ou até pequenas quedas. Para evitar surpresas e garantir tranquilidade, a TRAVEL MAGG falou com Ana Isabel Pedroso, médica especialista em Medicina Interna e mãe, que explica o que nunca deve faltar no kit de viagem de uma família.
Mais: a médica alerta ainda para um mito popularizado nas redes sociais — sim, falamos do penso rápido no umbigo para prevenir enjoos — e comenta a utilidade de localizadores infantis em destinos concorridos como aeroportos, parques temáticos ou praias lotadas.
O essencial para férias em Portugal com crianças
“Quem tem filhos sabe que os imprevistos acontecem quando menos esperamos — e muitas vezes longe de uma farmácia aberta. Por isso, é sempre útil montar um kit básico de saúde para levar de férias e estar relaxado”, começa por explicar Ana Isabel Pedroso.
"O que costumo recomendar (e o que levo para os meus filhos)
Termómetro digital
Antipirético/analgésico (como paracetamol ou ibuprofeno, em formato xarope ou supositório. Para os maiores, já existe em saqueta — muito prático!)
Antialérgico (se fizer sentido)
Antisséptico cutâneo
Pensos rápidos, compressas e ligadura
Tesoura e pinça
Soro fisiológico em monodoses (para olhos, nariz ou pequenas feridas)
Pomada cicatrizante
Pomada para picadas de insetos
Repelente de insetos adequado à idade
Protetor solar infantil
Saco de gelo instantâneo
Medicação habitual da criança (se aplicável)
E claro, nunca esquecer o boletim de saúde infantil e os cartões de saúde (cartão de cidadão ou de sistemas privados). Se a criança tiver alguma condição médica, é muito importante levar um pequeno resumo clínico com as alergias bem identificadas”, acrescenta. Outro alerta: “Atenção à temperatura a que se deixam estes medicamentos — não convém ficarem esquecidos no carro.”
Férias no estrangeiro: mais atenção, mais preparação
“Quando viajamos com crianças para outro país, especialmente com clima ou condições sanitárias diferentes, a preparação faz toda a diferença.” Ana Isabel Pedroso sublinha que é fundamental marcar uma consulta do viajante pediátrica com 6 a 8 semanas de antecedência. Aí, avalia-se a necessidade de vacinas específicas (como hepatite A), prevenção da malária e outros cuidados adaptados ao destino.
"No kit de viagem incluo tudo o que levo para Portugal, com alguns extras:
Probióticos (ajudam na adaptação intestinal)
Solução de reidratação oral
Mosquiteiro portátil (dependendo do destino)
Medicamentos específicos indicados na consulta do viajante
Repelentes apropriados
Cópia do boletim de vacinas atualizadas
E não esquecer de verificar o cartão europeu de saúde (no caso de viajar na Europa — é gratuito e fácil de pedir online!) ou o cartão de seguro internacional, além de levar o contacto do médico assistente da criança.”
Pensos rápidos no umbigo evitam enjoos? Alerta, mito viral!
O suposto truque infalível não é novo mas, seja no Instagram, seja no TikTok, proliferam vídeos onde se veem pais a colocar pensos rápidos no umbigo de crianças pequenas. Uma espécie de fórmula mágica que promete acabar com enjoos em viagens de carro, avião e até barco.
Ana Isabel Pedroso é taxativa a desmentir o mito. “Não existe qualquer base científica”, alerta a médica sobre esta tendência viral do TikTok. “A origem pode estar ligada a práticas de acupressão ou à utilização de adesivos com princípios ativos (como escopolamina), mas os pensos rápidos normais não têm qualquer efeito fisiológico comprovado.”
Como prevenir enjoos em crianças
- Evitar refeições pesadas antes da viagem
Garantir boa ventilação e hidratação
Manter o olhar fixo no horizonte
Usar medicação antiemética apenas com indicação médica
Localizadores para crianças: segurança ou exagero?
Também nas redes sociais o que não faltam são vídeos de pais a utilizar dispositivos electrónicos que permitem localizar objetos para não perderem de vista os filhos. Será uma boa estratégia para adotar em férias?
“Como mãe e médica, compreendo a ansiedade que muitos pais sentem em locais cheios ou desconhecidos. E a verdade é que os localizadores — em pulseiras, mochilas ou sapatos — podem ser uma ajuda útil, desde que usados com bom senso", explica Ana Isabel Pedroso.
No entanto, a especialista reforça que “são uma ferramenta complementar, que não substitui a vigilância ativa”, mas que podem ser muito úteis em aeroportos, festivais ou multidões.
O mais importante continua a ser
Ensinar a criança a memorizar o nome dos pais e um contacto
Vesti-la com roupas identificáveis
Aderir ao programa “Estou Aqui” da PSP
Nunca confiar apenas na tecnologia — ela pode falhar