Polémico como sempre, Michael O’Leary volta a incendiar o setor da aviação europeia. Em entrevista à SkyNews, o CEO da Ryanair alerta que mais de 100 mil passageiros poderão ver os seus voos cancelados na próxima semana devido a uma greve do sindicato francês dos controladores aéreos (SNCTA). O protesto, que decorre entre 7 e 10 de outubro, ameaça não só os voos de e para França, mas também todos os que atravessam o espaço aéreo francês, conhecidos como overflights.

Esta quinta-feira, 2 de outubro, França vive uma nova paralisação do setor, convocada por várias centrais sindicais. Segundo a Direção-Geral da Aviação Civil (DGAC), o impacto nos aeroportos é limitado, com exceção da plataforma de Paris-Beauvais, utilizada sobretudo pela Ryanair, onde foi imposto um corte preventivo de 30% dos voos. A autoridade sublinha, no entanto, que ao contrário desta greve mais abrangente, a paralisação dos controladores aéreos, marcada para os dias 7 a 10 de outubro, terá efeitos muito mais significativos no tráfego europeu.

O’Leary estimou que só nos dois primeiros dias da paralisação a Ryanair poderá ser forçada a cancelar cerca de 600 voos — a esmagadora maioria deles atravessando França para destinos como Espanha, Itália ou Grécia. “É um abuso do mercado único europeu”, afirmou, pedindo que a União Europeia proteja os voos que apenas cruzam o espaço aéreo francês. O executivo apelou ainda a que os passageiros afetados apresentem queixa junto da Comissão Europeia e dos ministros dos transportes, tendo a companhia criado até um site dedicado: ATCruinedourholiday.com.

A polémica não fica por aqui. Em entrevista ao jornal italiano "Corriere della Sera", O’Leary disparou contra os seus principais concorrentes. A low cost húngara Wizz Air, disse, “não tem futuro” e funciona segundo “um esquema de pirâmide Ponzi” assente em vendas e relocação de aviões durante a pandemia. Já a easyJet, apesar de não enfrentar dificuldades imediatas, poderá, segundo o líder da Ryanair, acabar fragmentada e vendida em partes a grupos como a Air France-KLM e a British Airways.

Estas declarações surgem num contexto de instabilidade crescente no setor, depois da falência da islandesa Play Airlines e da redução da operação da sueca Braathens. Enquanto acusa rivais de modelos financeiros insustentáveis, O’Leary mantém a sua política agressiva de negociação com aeroportos, tendo recentemente cortado um milhão de lugares em rotas regionais espanholas após um braço de ferro com a Aena.

A Ryanair garante que continuará a operar sempre que possível, mas não descarta novos cancelamentos caso a greve francesa se prolongue. Já as restantes companhias, como easyJet, British Airways, Vueling e Lufthansa, admitem que também poderão sofrer perturbações.

A recomendação é simples: se vai viajar naqueles dias, mantenha-se atento à aplicação da companhia aérea ou ao estado do seu voo online. A Ryanair criou também o site ATCruinedourholiday.com para que os passageiros afetados façam queixa junto da Comissão Europeia.