De Lisboa ao Algarve, do Algarve até ao Porto e do Porto até Lisboa. Ao longo de uma semana, troquei o meu velhinho mas competente Honda CIVIC de 1999 pelo Honda e:Ny1 e fiz mais de 1000 quilómetros ao volante do primeiro modelo 100% eléctrico da marca japonesa. Com alguns percalços pelo meio, não relacionados com o carro, cheguei à conclusão de que sou uma Honda girlie*. Os modelos do fabricante nipónico têm um estilo de condução, um agarrar de volante e até um tipo de motor que só quem está muito habituado à marca vai conseguir entender. A segurança, aliada a uma condução divertida e leve, faz-me querer ser fiel à Honda.

Lançado em 2023, o Honda e:Ny1 promete 412 quilómetros de autonomia sem necessidade de carregamento. Já sabemos que temos de encarar estas promessas com um franzir de sobrolho, uma vez que não são calculadas para percursos em autoestrada ou nos quais sabemos que podemos acelerar mais um pouco. Mas o meu primeiro - e maior louvor - vai para um pormenor que não vem nas fichas técnicas automóveis: o formato do banco do condutor.

Vamos ser honestos: a partir do momento em que os instrumentos ginecológicos são desenhados por homens, ninguém está à espera que um carro, área que continua a ser predominantemente masculina, seja desenhado a contar com a anatomia feminina, pois não? Eu, que não sou magrinha e tenho - digamos assim - muita tralha na bagageira (tenho um rabo grande, pronto), encontro sempre a mesma dificuldade em carros, seja no banco do condutor, seja no do passageiro ou, pior, nos bancos traseiros: ou é o encaixe do cinto de segurança que fica quase debaixo do rabo, ou é o formato e a dureza do banco que causam dores terríveis ao fim de umas horas de condução, ou são os cintos de segurança que, passados 66 anos de Nils Bohlin os ter inventado, ainda continuam a não estar adaptados à anatomia feminina. Às mamas, para quem ainda não tinha percebido.

O Honda e:Ny1 tem o assento de condutor perfeito
O Honda e:Ny1 tem o assento de condutor perfeito O Honda e:Ny1 tem o assento de condutor perfeito créditos: TRAVEL MAGG

O Honda e:Ny1 pode não ser o carro perfeito mas tem o assento perfeito. E eu, que não sou muito fã de conduzir grandes distâncias, não senti qualquer desconforto durante as várias horas que passei ao volante deste 100% eléctrico. Agora, senhores engenheiros e designers da indústria automóvel, toca a fazer cálculos e medições para tornar os bancos de trás mais adequados ao formato do corpo das mulheres. Agradecida.

E por falar em questões mais soft relacionadas com carros, falemos de condições para pessoas com mobilidade reduzida e respetivos cuidadores. Ao longo desta semana, tive de transportar um familiar que se encontra de cadeira de rodas. Um tema que pode não ser muito sexy mas que é o dia a dia de milhares de pessoas. O modelo de cadeira é o mais pequeno do mercado e, mesmo assim, coube à justa (e sem os apoios dos pés). O que significa que uma família que tenha um elemento que se desloque numa cadeira de rodas maior tem de abdicar de espaço no banco traseiro para poder transportar este equipamento de mobilidade.

cadeira de rodas no Honda e:Ny1
cadeira de rodas no Honda e:Ny1 Cadeira de rodas no Honda e:Ny1

O sistema de infoentretenimento Honda CONNECT de 15” está um pouco desatualizado, nomeadamente no facto de não ser possível fazer emparelhamento com Android sem ser ou por cabo USB ou com a com a aplicação Android Auto. Ficámos limitados ao Bluetooth (o USB-C não dá para emparelhar), o que não nos permitiu ter as aplicações disponíveis no painel do carro, apenas o áudio. O sistema de navegação é para esquecer, com uma lentidão e inexatidão de pesquisas de levar ao desespero. 

Passando para os elogios: todos os veículos elétricos deviam ter a porta de carregamento no mesmo sítio onde se encontra a do Honda e:Ny1: à frente, num painel acima da matrícula. Acabar-se-iam as figurinhas tristes nos postos de carregamento, a fazer ginásticas impossíveis para puxar aqueles cabos que, sejamos honestos, são tudo menos leves e flexíveis. #hondabem. O único senão é ter de fechar a portinhola do ponto de carregamento à mão, o que fez com que, por várias vezes, me tenha esquecido de o fazer. Apesar de o painel lançar um alerta sonoro e visual, o veículo devia ficar impedido de arrancar, por questões de segurança, enquanto a entrada de carregamento estivesse aberta. Fica a ideia.

O pesadelo dos postos de carregamento avariados

Imaginem que conduzem um veículo a combustível, vão na autoestrada e precisam de abastecer. Chegam à bomba, agarram na pistola do gasóleo ou da gasolina e... nada. Sem aviso, sem alerta. Nada. Nicles batatóides. Nunca aconteceria no mercado do petróleo, pois não? No segmento eléctrico, a música é outra. E valeu-nos quase um ataque de pânico na A13. Estação de serviço de Almeirim. Carregadores avariados. Todos. Dois postos. Nenhum a funcionar. Bateria a 30%. Suores frios. Lá fomos nós, a 70 quilómetros à hora, até Santarém onde, no meio do caos das obras, lá encontrámos um Burger King com uma tomada a funcionar.

Posto de carregamento avariado em Almeirim
Posto de carregamento avariado em Almeirim Posto de carregamento avariado em Almeirim

15 anos depois do lançamento do Nissan Leaf, considerado o primeiro elétrico acessível e produzido em larga escala, ainda há muito caminho para trilhar na democratização do acesso não só a estes veículos como também aos postos de carregamento. E já nem falo da guerra carregadores CHAdeMO vs. CCS, que só me faz lembrar a batalha Android vs. iOS e mais os 6484 tipos de carregadores que a Apple foi inventando ao longo dos anos. Embora, boas notícias, a tendência do mercado será para a descontinuação dos CHAdeMO e a adoção global do CCS. Depois disso tudo, só falta uniformizar as formas de pagamento e acabar com aplicações, 30 tipos de cartões e outras confusões. Devagar se vai ao longe (exceto se tiverem de carregar o carro em Almeirim).

Suporte copos e:Ny1
Suporte copos e:Ny1 Suporte copos e:Ny1 créditos: TRAVEL MAGG

De volta ao Honda e:Ny1. Temos de admitir que já temos saudades daquele barulhinho alienígena que o carro faz quando estamos em marcha-atrás e também do suporte para copos e garrafas, que tem a dimensão certa para ter uma bebida à mão. Porque, apesar de tudo, e embora não seja um carro perfeito, o e:Ny1 confirmou que sou e serei sempre uma Honda girlie.

O que distingue o novo Honda e:Ny1 100% elétrico?

O Honda e:Ny1 é o primeiro SUV totalmente elétrico da marca japonesa e destaca-se pela autonomia de até 412 quilómetros (WLTP) graças à bateria de iões de lítio de 68,8 kWh. O motor de 204 cv permite uma condução ajustável entre modos ECO, SPORT e NORMAL, oferecendo equilíbrio entre eficiência e desempenho, enquanto o carregamento rápido de 10 a 80 % em 45 minutos garante praticidade no dia a dia.

O design exterior combina linhas fluidas e grelha dianteira arrojada com puxadores traseiros ocultos e jantes de 18’’, conferindo um estilo coupé sofisticado. O habitáculo privilegia o conforto e a funcionalidade, com estofos em pele, espaço generoso para os passageiros e bagageira de até 1.176 L. O painel de instrumentos digital de 10,2’’ e o ecrã tátil de 15’’ reúnem infoentretenimento, navegação e conectividade, incluindo Apple CarPlay e Android Auto sem fios, bem como carregamento sem fios.

A segurança é assegurada pelo Honda SENSING, que integra sensores, câmaras e alertas avançados para situações imprevistas, garantindo proteção ativa e passiva a todos os ocupantes. Com cinco anos de garantia e assistência em viagem, o e:Ny1 combina autonomia, conforto, tecnologia e segurança, posicionando-se como uma proposta sólida no segmento de SUV elétricos compactos.

Principais características técnicas do Honda e:Ny1

  • Preço: A partir de 52 400 € (versão Elegance)
  • Versões disponíveis: Elegance, Advance
  • Potência: 204 CV (150 kW), tração dianteira
  • Autonomia: Até 412 km (WLTP)
  • Aceleração 0–100 km/h: 7,6 s
  • Velocidade máxima: 160 km/h
  • Carregamento rápido: DC 10–80 % em 45 min (78 kW)
  • Dimensões: 4 387 mm compr., 1 790 mm larg., 1 584 mm alt.
  • Bagageira: 361 L (1 176 L bancos rebatidos)
  • Peso: 1 730 kg
  • Interior: Ecrã de 15” (Honda CONNECT), bancos dianteiros aquecidos, carregador sem fios, compatibilidade com Android Auto e Apple CarPlay
  • Segurança: Sistema de travagem regenerativa inteligente, modos de condução Econ, Normal e Sport
* O termo “Honda Girlie” refere-se de forma leve a condutoras que seguem a marca com entusiasmo, valorizando estilo, inovação e performance dos veículos Honda
* a TRAVEL MAGG testou o Honda e:Ny1 a convite da marca