
Às vezes, basta uma escapadinha de poucos dias para recuperar energias – e há um hotel em Alcácer do Sal que oferece exatamente isso. Situado à beira da Barragem Trigo de Morais, também conhecida como Barragem do Vale do Gaio, o hotel homónimo é o lugar ideal para descansar longamente, sem pressas, mesmo quando a chuva do inverno insiste em cair.
No coração do Alentejo, com uma vista de cortar a respiração, o Vale do Gaio Hotel reabriu em outubro de 2019, após profundas obras de renovação, e recebe os hóspedes com uma atmosfera acolhedora e intimista. A MAGG teve a oportunidade de visitar o espaço e, mal se chega, percebe-se que este é um daqueles sítios onde o tempo desacelera. O silêncio só é interrompido pelo som da água da barragem ou pelo chilrear dos pássaros, tornando-o perfeito para quem procura desconectar-se da rotina.
E quando entra pela porta, um mundo completamente novo aparece. Com uma decoração ousada e, digamos, eclética, o Vale do Gaio combina assentos de todas as cores e objetos com histórias impressionantes, uma vez que veio tudo da coleção privada do proprietário, Vasco Gallego (que também é o chef do restaurante). “Estão aqui grande parte das minhas peças. Eu estive casado com a minha mulher, Cláudia, durante 30 anos, e ela faleceu. Isto é um bocadinho de um resumo de uma vida a dois, de 30 anos”, começou por dizer à MAGG.
“Aqui em baixo, quero dar conforto e quero que as pessoas se sintam em casa. Lá em cima, nos quartos, eu era incapaz de ter coisas complicadas, então fizemos esse contraste”, continuou. Desta forma, o que Vasco Gallego quis fazer foi, tanto no primeiro piso do hotel como na parte exterior, oferecer um postal de Vale do Gaio, com uma decoração mais rústica cheia de detalhes divertidos, ousados e diferentes do habitual onde a barragem é a protagonista do filme.
No primeiro piso estão os quartos (são apenas 14, o que contribui para a sensação de paz), confortáveis e cheios de luz natural. Convidam a momentos de descanso e alguns oferecem varandas voltadas para a barragem, proporcionando um despertar sereno com vista para a paisagem alentejana. A decoração simples, mas elegante, reforça a sensação de que o hotel se funde com o ambiente que o rodeia.
No total, são seis os tipos de acomodação: Standard, Standard com Vista, Superior com Vista, Superior Plus com Vista, Superior Master com Vista e Superior Plus com Vista Nascente. A TRAVEL MAGG teve a oportunidade de ficar num Superior Plus com Vista, com dois cadeirões virados para a barragem. E podemos mesmo dizer que os quartos do Hotel Vale do Gaio não são apenas para dormir, mas para se demorar neles.
Seja a ler junto à janela, a contemplar o reflexo da luz na água ou simplesmente a sentir o silêncio tão raro no dia a dia, nem a pequena varanda com também duas cadeiras e uma mesa escapou à beleza do quarto, e mesmo chovendo num dos dias, deu para tirar o máximo partido. Tudo muito simples e com uma decoração minimalista, o hotel não quer mesmo enganar: o luxo aqui traduz-se em tranquilidade e em vistas que ficam na memória.
E para que essa serenidade seja ainda mais plena, o Vale do Gaio Hotel recebe apenas hóspedes com mais de 14 anos, o que garante uma estadia ainda mais tranquila. “Foi uma decisão que eu tive mesmo que tomar. Custou-me imenso na altura, mas é o que faz sentido. Se nós temos o azar de ter um casal com uma criança barulhenta, que a criança não tem culpa nenhuma, é barulhenta por natureza, mas se temos esse azar, estamos a incomodar um hotel inteiro. O Vale do Gaio é um sítio para ouvir o barulho do silêncio”, disse Vasco Gallego.
Mas fora das paredes altas e polidas do hotel também existe todo um mundo para explorar. Durante o dia, as opções para aproveitar são variadas, como mergulhar na piscina com vista para o lago, explorar os trilhos em redor - podendo até usufruir das bicicletas que o Vale do Gaio disponibiliza -, ou simplesmente saborear o prazer de não fazer nada, apenas contemplar. Para os mais aventureiros, há atividades como canoagem ou passeios de bicicleta, mas a verdadeira magia está em deixar-se envolver pelo ritmo lento e tranquilo da região.
Além disso, o hotel também conta com um restaurante, que merece um destaque especial. A cozinha, inspirada nos sabores tradicionais do Alentejo, surpreende pelo equilíbrio entre o rústico e o sofisticado. As refeições querem mesmo tornar-se experiências memoráveis (uma vez que é também na zona do restaurante que se serve o pequeno-almoço, bastante variado e saboroso), acompanhadas pela vista única sobre a barragem que, ao pôr-do-sol, se transforma num espetáculo de rosas e laranjas.
E na carta há um pouco de tudo. Vasco Gallego, que também é o chef do restaurante, compôs um menu em conjunto com Zézinha (que já conquistou por três vezes a medalha de melhor prato de peixe do Alentejo) que conseguisse agradar a todos os paladares, e acabou com uma mistura entre pratos já conhecidos e criações próprias. A patanisca de nada, por exemplo, é um prato criado por Vasco Gallego, que um dia lhe veio num sonho e que ele decidiu adicionar na carta.
“Às vezes acordo e escrevo aquilo com que sonhei, mas tem de ser num prazo de 15 minutos no máximo, senão já não me lembro. E é daí que vem a patanisca de nada. Normalmente a patanisca é de bacalhau ou até de camarão, e esta minha, do meu sonho, era só a massa que era super crocante com salmão fumado em cima. Saiu do sonho para a carta e foi o best seller durante muito tempo”, disse o proprietário. E sim, a patanisca não tem mesmo nada por dentro, sendo apenas a massa do famoso petisco, acompanhada de salmão fumado e nata azeda. Se não é fã de sabores mais gordurosos, não recomendamos, mas se gosta de provar coisas novas, aqui está o prato ideal.
Provámos também o tártaro de salmão com zabaione de soja e wasabi (13,80€), o polvo à Gallego com cremoso de batata e polvo frito (14,80€) e a galinha acerejada com batata frita à rodela (19,50€). O polvo foi o favorito da noite, com um sabor mais fumado que contrastava com o cremoso de batata. Sem grumos (o que pode acontecer com frequência) e com uma consistência sólida, foi o acompanhamento ideal para o polvo, que roubou todas as atenções da carta - é, inclusive, uma das novidades do restaurante do hotel que tem vindo a fazer sucesso desde que está na carta.
O fim de semana passou sem pressas, como se o relógio tivesse deixado de funcionar. Entre conversas demoradas, leituras à beira da água e momentos de silêncio absoluto, além da refeição bastante satisfatória, o verdadeiro luxo do Vale do Gaio não está apenas nas suas comodidades, mas na paz que oferece a quem o visita. O hotel fica apenas a uma hora de Lisboa, pelo que é um daqueles lugares que tem mesmo de adicionar à lista.
A estadia no Hotel Vale do Gaio para duas pessoas de 4 a 6 de setembro (sexta-feira a domingo), tem o custo de 423€, se optar pelo Superior com Vista e pequeno-almoço incluído.