Há momentos na vida que se tornam inesquecíveis depois de interiorizarmos que os vivemos. Não é por acaso que se tornam memórias carinhosas, que nos fazem sorrir e olhar para o horizonte com a expectativa de que um dia, talvez, se voltem a repetir — mas, se não acontecer, está tudo bem, porque foi naquele instante que percebemos que estávamos, de facto, a viver o agora. Nem que seja só uma vez na vida. O Hotel Vermelho, associado à Relais & Châteaux, é essa sensação transformada em espaço físico.

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Inaugurado em 2023 em Melides, é o primeiro projeto hoteleiro de Christian Louboutin, o artista por trás dos sapatos de sola vermelha. E embora pareça óbvio, não é por isso que o hotel se chama assim. "O nome original não era para ser Vermelho. Ele nunca revelou qual era, mas, conforme o hotel foi sendo construído, deixou de fazer sentido. E quando começou a aplicar as cores, esforçava-se para dizer 'Vermeil' — uma cor associada a um tipo específico de tratamento de prata e ouro", explica Vera Gonçalves, diretora do hotel, à TRAVEL MAGG.

"É daí é que vem o nome, até se parece com a palavra 'Vermelho', vermelho é uma palavra portuguesa, estamos a criar um hotel português, por acaso é a cor característica dele, portanto fazia todo o sentido", acrescentou. E a verdade é que encaixa na perfeição com as características do hotel. Apesar de não ser a cor chamativa das solas dos sapatos de Christian Louboutin, o vermelho utilizado no hotel é de um tom mais escuro, mais carregado, e normalmente é nos pequenos detalhes onde se nota mais, não nos fazendo esquecer de que aquele é, de facto, um hotel de luxo.

Mas, à primeira vista, não parece. Quando o carro para à frente do Vermelho, um portão grande e em madeira é a única coisa que se vê. "Será que estou no sítio certo?" é a pergunta que vem logo à cabeça, mas assim que vemos o portão a abrir, nada do que antes imaginávamos se pode comparar àquilo que vemos lá dentro. Um vale enorme onde o mato e a floresta ocupam toda a visão, uma arquitetura feita em cimento que parece ter sido esculpida com o maior dos cuidados, um atendimento que deixa qualquer um com o sentimento de pertença. 

Veja as fotos do hotel

Num primeiro momento, somos levados para uma pequena (grande) sala de estar, onde os hóspedes aguardam pelo check-in. Há sumos, águas, fruta e frutos secos — mas a atenção desvia-se facilmente para os azulejos deslumbrantes que preenchem o espaço. "Temos azulejos da Índia, os maiores são espanhóis do século XIX, os sofás foram desenhados por Pierre Yovanovitch, o coral é verdadeiro — e apesar de hoje já não ser permitido, o Christian já o tinha há muito tempo, por isso ficou", conta Vera.

A sensação é de que estamos fora do Alentejo. Uma mistura de culturas e influências artísticas transforma o ambiente numa pequena vila dentro de outra vila. Mas é quando entramos no quarto que a verdadeira aventura começa. E fica já o conselho: experimente a banheira de pedra — nem que seja só para se sentir pequenino no meio de tanta imponência.

Estes quartos não são para dormir

Não leve o título à letra, porque claro que têm uma cama onde é suposto dormir. Cada quarto conta uma história, como se cada um tivesse sido pensado e desenhado por pessoas completamente diferentes, em vidas certamente distintas. Todos com as suas próprias características, é de uma estranheza enorme chegar a um hotel e perceber que tudo foi pensado ao pormenor, que o seu objetivo claro é distinguir-se de todos os outros hotéis. Não há a sensação de partilha, não há a sensação de inspiração noutro tipo de alojamentos. O Vermelho é apenas e só o Vermelho.

Calhou-nos um quarto Jardim Português, que conta com um terraço adjacente com ligação direta para os jardins do hotel, onde os azulejos roubam todas as atenções. Quer seja no chão, delicado e com um toque suave, quer seja na cabeceira da cama, não há como dizer que estas acomodações não se tratam, realmente, do mais puro português que existe. Com muita cor e, claramente, bastante tradição, toda a decoração foi pensada por Christian Louboutin, que inclusive utilizou artes que tinha na sua coleção para pintar as paredes do hotel.

Aliás, não só as paredes como também todos os cantos, uma vez que grande parte da decoração do Vermelho vem da coleção privada do designer. Há um local específico no hotel que foi inclusive pintado à mão para conjugar com um grande candeeiro de ouriços do mar do artista, que transformou completamente o espaço em algo mais divertido e único - mas a sua beleza tem mesmo de ser vista com os próprios olhos, que nenhuma fotografia faz jus. No entanto, voltando ao quarto, algo que também não parece nada aquilo que vemos nas fotografias é a casa de banho.

Muito mais espaçosa do que pensávamos, encaramos uma grande banheira revestida a azulejos, cuja cor difere de quarto para quarto. E não estamos mesmo a brincar: quando falamos em grande, podemos afirmar com 100% de certeza que cabiam pelo menos dois Dwayne Johnson lá dentro.

Não saia do Vermelho sem conhecer o Tim

Depois de nos maravilharmos com o quarto, passámos à descoberta. Uma piscina com vista para o monte, um terraço que se transforma assim que começa a cair o sol, várias mesas e cadeiras espalhadas caso alguém queira apreciar a vista e ainda um bar cuja decoração parece mesmo saída de um filme de Bollywood. No entanto, o spa foi aquilo que nos prendeu. Com uma sala pequena mas espaçosa o suficiente para todo o tipo de tratamentos, foi aqui que conhecemos Tim, o terapeuta de serviço, que nos mostrou que aquilo que nos faltava na vida era mesmo uma boa massagem. 

Tim faz parte da equipa de bem-estar do hotel, que oferece tratamentos personalizados combinando técnicas ayurvédicas ancestrais com produtos cosméticos de luxo. Depois de uma massagem de corpo inteiro, tivemos ainda a oportunidade de ficar a conhecer o ritual Mukha & Pada Abhyanga, onde Tim, com a sua experiência, percebeu como estava o nosso organismo e a nossa saúde mental sentindo apenas a nossa pulsação - e até podíamos mesmo dizer que não acreditávamos nisto se aquilo que Tim disse não fosse completamente verdade.

A massagem teve a duração de uma hora, mas o tempo passou tão devagar (exatamente como queremos numa massagem), que parece que tínhamos ficado ali a tarde toda. Mais descansadas para passar o final do dia no Hotel Vermelho, Tim soube conduzir-nos por um momento de relaxamento e sensações de paz, enquanto os nós dos ombros se desfaziam e a respiração se tornava mais profunda.

Jante no restaurante, não se vai arrepender

Com apenas um dia de estadia, a nossa aventura pelo Vermelho acabou no restaurante do hotel, de nome Xtian (lê-se como o nome do designer), a jantar. Quando entrámos, a decoração roubou mais uma vez a nossa atenção, uma vez que todas as paredes estavam preenchidas por grandes posters de filmes cinematográficos, e Vera Gonçalves confessou-nos que, possivelmente, aquelas seriam as produções preferidas de Christian Louboutin.

A gastronomia, muito portuguesa, honra os tesouros que o País tem escondidos. Optámos por começar com o creme de cogumelos selvagens e trufa de inverno (34€), acompanhado com uma mousse de requeijão trufada que superou expectativas. De seguida, optámos pela garoupa à bulhão pato (35€), com espinafres, batata-doce assada, molho e salada de lingueirão e toranja.

Seguimos com o magret de pato com alface gema grelhada (34€), acompanhado por arroz de miúdos e enchidos, puré de laranja e molho de vinho do Porto - e apesar de a carne estar boa (confessando que não foi o nosso prato favorito), o destaque vai todo para o arroz, que continha pequenos enchidos fumados que transformaram o prato numa refeição deliciosa. Se tivéssemos de escolher, o arroz foi sem dúvida o ponto alto da noite.

Não podíamos sair do Vermelho sem provar duas das suas grandes sobremesas: o fondant de baba de camelo (12€), com gelado de baunilha, pistácio e molho de framboesa, e a queijada de queijo cabra (10€), com crocante de nozes caramelizadas e mel de Melides. Percebemos o porquê de serem dois dos mais escolhidos, mas estará muito bem servido se optar apenas pela queijada. Não é demasiado doce nem tem um sabor a queijo extremo, mas para quem estava habituado às queijadas de Sintra, esta queijada de queijo cabra foi uma agradável e admirável surpresa - que poderá até ter levado a melhor. 

Com isto, o veredicto é fácil: se alguma vez estiver por Melides e puder visitar o Hotel Vermelho, não deixe a oportunidade escapar. A estadia para duas pessoas de 10 a 11 de maio (sábado para domingo) no quarto Jardim Português tem o custo de 980€, com pequeno almoço já incluído.

A MAGG visitou o Hotel Vermelho a convite da Relais & Châteaux.