Em 2007, com a independência de Montenegro, o governo concentrou esforços em impulsionar a economia através do turismo. Entre vários projetos, um dos que mais chamou atenção foi a transformação da ilha Mamula num hotel de luxo sob a gestão do grupo Banyan Tree. A história deste local, porém, é marcada por controvérsias.
Antes de se tornar destino turístico, a ilha Mamula abrigava apenas uma fortaleza austro-húngara construída no século XIX para impedir a entrada de navios inimigos na baía. Durante a Segunda Guerra Mundial, a ilha foi convertida num campo de prisioneiros italiano, conhecido como Campo de Mamula, onde mais de 2.000 pessoas foram detidas e torturadas, resultando na morte de mais de 100 prisioneiros, segundo o “Business Insider”.
Quando o projeto de reconversão em hotel foi anunciado, não faltaram vozes críticas que consideraram a iniciativa um insulto à memória das vítimas. Ainda assim, o governo concedeu ao grupo suíço Orascom Development Holding (ODH) uma concessão de 49 anos, assegurando que o espaço integraria elementos de homenagem. A controvérsia reacendeu em 2019, quando a associação local Bokobran Initiative denunciou que escavações para a construção da piscina teriam destruído parte da estrutura original da fortaleza.
Uma obra luxuosa e polémica com um toque português
A transformação, que durou 7 anos, foi conduzida pelo atelier português MCM Lisbon – Architecture & Design, fundado pelo arquiteto Miguel Câncio Martins. Reconhecido internacionalmente por projetos em hotelaria e restauração, o estúdio tem no portefólio espaços emblemáticos como o Buddha Bar, em Paris, e o Conrad Algarve. No caso da ilha Mamula, liderou o processo de reabilitação e adaptação da fortaleza, em articulação com especialistas em património e autoridades locais, num projeto que viria a ser distinguido com o prémio Best Luxury Hotel Architecture nos Luxury Lifestyle Awards de 2024.
O Mamula Island Hotel dispõe hoje de restaurantes inspirados na gastronomia montenegrina, como o sun deck no extremo da ilha ou o Pinea Mixology Bar, dedicado à arte dos cocktails. A vertente de bem-estar é outro destaque. O spa inclui sauna, câmara de flutuação e diferentes terapias. Uma massagem de recuperação custa desde 90 € (30 minutos) a 145 € (60 minutos), enquanto sessões de hidroterapia variam entre 75 € e 115 €, consoante a duração.
Nas acomodações, há quartos com varanda sobre o Adriático, suítes panorâmicas com terraços privados e opções instaladas na torre histórica da fortaleza, como a Sky Suite. Em setembro, uma noite para dois custa a partir de 723 €, baixando para 553 € em outubro. Para estadias mínimas de três noites, o hotel aplica um desconto de 35% sobre a tarifa mais baixa.
Além do turismo, a ilha é também procurada para cerimónias e renovações de votos, aproveitando tanto a envolvência natural como a arquitetura histórica. O hotel permanecerá aberto até ao final da temporada de 2025, mas já foi anunciado que, em 2026, o espaço sofrerá uma profunda reconfiguração pelo grupo Banyan Tree.