
Como rabugenta profissional, posso resumir as 48 horas que passei no Tivoli Kopke Gaia desta forma: quis encontrar defeitos e não consegui. É este hotel de cinco estrelas, aberto em fevereiro, perfeito? Há pequenas afinações a fazer mas, para uma unidade recém-inaugurada, e numa localização com uma oferta tão variada no mesmo segmento (The Yeatman, Hilton Porto Gaia, The Rebello e Forte de Gaia, por exemplo), o Tivoli Kopke Gaia cumpre com distinção o que se espera de um cinco estrelas: excelência no serviço, acomodações surpreendentes e aquele elemento indefinível que nos faz, em simultâneo, sentir em casa e vibrar com a singularidade luxuosa da experiência.
Leia sobre a nossa experiência sensorial no Tivoli Kopke Gaia
1. Visão
Enquanto visitamos, na companhia de Bruna Coelho, marketing e communication manager, as caves da Kopke, mantidas como zona de engarrafamento e armazenamento dos vinhos mas agora transformadas também em zona para eventos, ficamos assoberbados pela dimensão das catacumbas da mais antiga casa de vinho do Porto. As caves, fundadas em 1638, continuam a funcionar, e ganham agora nova vida com a visita de hóspedes, que assim ficam a conhecer a história desta marca, parte integrante da identidade da região. Ali, estão armazenados cerca de 2 milhões de litros de vinho, um número impressionante, que nos faz manter o silêncio perante a imponência de cubas, barricas e paredes com centenas de anos.

A fusão de História com contemporaneidade está presente no Tivoli Kopke Gaia em forma de arte. O hotel, dos jardins aos corredores, é uma galeria de arte e, em cada recanto, há pinturas, esculturas, instalações, de artistas nacionais e internacionais. Como nos explicou Bruna, a coleção está em crescimento e, aquando a nossa visita, estavam prestes a chegar candelabros criados por Joana Vasconcelos, uma das várias artistas que tem obra nos corredores e recantos do hotel. Além, claro, das fotografias de Domingos Alvão, que narram em imagens a história do Vinho do Porto.
2. Audição
Ouvir nada. Fechar a porta e apreciar apenas o silêncio. Caminhar descalça no chão morno, apenas abraçada pelo roupão e pelos chinelos mais fofinhos que já encontrei num hotel. Fiquei instalada num premium room with terrace and river view (a partir de 475€ por noite), com tecto alto, abaulado, uma marca que demonstra que as linhas originais do edifício foram mantidas e a construção adaptada à estrutura centenária.

Um dos maiores prazeres de um bom quarto de hotel é ouvir o jorro generoso de um chuveiro que não se intimida. E o do nosso quarto cumpriu com distinção, com a vantagem ainda de ter uma opção de massagem rotativa (assumo a ignorança, nunca tinha visto uma cabeça de chuveiro com jactos rotativos).
Não demos pela música ambiente do Tivoli Kopke Gaia, o que é bom sinal. Mesmo no exterior, na apetitosa piscina exterior do hotel (com aquela vista inigualável de Gaia para o Porto), a banda sonora escolhida não incomoda nem retira relaxamento da estadia. E mesmo no spa (ó, como as bandas sonoras de spa são a nossa embirração de estimação!) não conseguimos sequer recordar-nos do que ouvimos. Ótimo sinal.
3. Olfacto
Das flores, que começavam a nascer timidamente nos jardins e varandas, ao café acabado de fazer do pequeno-almoço, passando pelos aromas suaves dos produtos usados no Tivoli Spa, a experiência sensorial no Tivoli Kopke Gaia convida ao prazer, ao descanso, à contemplação. E o hotel passou distinção na nossa prova de fogo: os ambientadores. A trend de criar fragrâncias personalizadas para "ilustrar" (perdoem a sinestesia) corredores e áreas comuns dos hotéis chegou a um ponto tal que se privilegia a presença de perfumes em detrimento do bem-estar dos hóspedes.
Como tenho sensibilidade a perfumes em geral, já aconteceu por diversas vezes uma estadia que se queria agradável se tornar numa tortura (e numa noite de vigília, com o nariz entupido e a garganta cheia de muco). Eu sei, a visão é dos demónios, mas é propositada, e um gentle reminder a quem decide estas coisas para ter em conta que nem toda a gente se dá bem com ambientadores e afins. O aroma escolhido para perfumar o Tivoli Kopke Gaia, além de subtil, combina na perfeição com o espírito do hotel. Subtil mas presente, consensual mas evidente. Aprovadíssimo.
4. Paladar
Do Boa Vista Terrace ao 1638, restaurante e wine bar liderado pelo chef espanhol Nacho Manzano (três estrelas Michelin, logo assim para ficarmos apresentados), só há boas razões para fazer uma refeição no Tivoli Kopke Gaia. E todas as que fizemos foram ótimas. Mas temos de falar do pequeno-almoço, que é servido no Boa Vista Terrace (onde jantámos também... mas já lá vamos). Não foi o extenso e variado buffet que nos cativou mas sim uma novidade inusitada, que até agora não tínhamos encontrado num hotel: uma estação de matcha, com todos os apetrechos necessários para preparar esta bebida, uma alternativa para quem não gosta de café ou prefere algo diferente para começar o dia.
Pode parecer algo demasiado simples para destacar, mas adorámos o pão brioche do buffet, assim como a extensa variedade de opções mais saudáveis, desde spirulina a curcuma para juntar a bebidas, até batidos e sumos de fruta acabados de fazer. Entre as opções salgadas mais inusitadas, adorámos o guacamole com nachos, não só porque apreciamos começar o dia com uma refeição mais substancial mas também porque - podemos estar enganados, atenção, os nachos nos pareceram caseiros e estavam muito bem temperados.
Ainda no Boa Vista Terrace, mas ao jantar, tivemos a oportunidade de provar os muito recomendados croquetes de presunto (8€, 4 unidades), a beringela assada, linguiça, queijo da ilha, rúcula e mel (11€) e uma escolha que pode parecer inusitada mas que se revelou ganhadora: a pescada na sua essência com salada e molho hollandaise (29€). Apesar de termos tido uma experiência de fine dining, da qual falaremos a seguir, temos de destacar este prato de pescada, pela delicadeza com que estava confeccionado. Terminámos com um creme de flan e espuma de iogurte cítrico (8,50€), o doce ideal, com um toque de acidez, perfeito para finalizar a refeição.
Bons ventos trouxeram de Espanha até Gaia Nacho Manzano. Depois de conquistadas três estrelas Michelin, o chef asturiano de 54 anos aceitou o desafio de se lançar em território português. o Porto já lhe era familiar e, em vez de apostar em Espanha, decidiu rumar ao litoral do país vizinho. "Interessou-me vir para o Porto porque adoro a cidade. São 5 horas de carro, não é assim tanto", explicou Nacho Manzano, confessando que, aquando o convite, "não sabia nada do projeto". Apenas que queria vir para Portugal.
O cozinheiro é o chef executivo da unidade hoteleira de cinco estrelas, sendo o responsável por todas as cartas. E é no 1638 (data de nascimento das caves) que, em dois turnos com apenas 8 comensais cada que Nacho Manzano, juntamente com Tony Salgado (chef executivo) e Alexandre Tomás (chef de cozinha) servem 11 momentos que são puro deleite, simplicidade e surpresa. "Muita simplicidade mas com muito sabor e muita fusão de produto português com toda a sabedoria do chef", explica Tony Salgado. Os sabores lusos, as influências da simplicidade da gastronomia asturiana, do mar e da terra, proporcionam uma refeição em que a primazia vai para a qualidade dos ingredientes.
E, como estamos numa casa em que se faz vinho, todos os vinhos que provámos ao longo da refeição são da casa, mais concretamente São Luiz Winemaker's Collection. Dos 11 momentos, temos de destacar dois que nos cativaram. A ostra com molho de pato e batido de algas de codium e, no setor das sobremesas, o bolo de milho e praliné de kikos, que foi servido dentro de uma caixa juntamente com a rosquilha de chocolate. Comíamos uma refeição só destes dois pratos.
Conheça os 11 momentos
O menu de 9 momentos tem o preço de 110€ por pessoa e o de 11 momento custa 140€ por pessoa. O suplemento vínico é opcional e tem um custo adicional.
5. Tacto
Começou com uma massagem personalizada de 50 minutos (150€), pensada à medida do que o corpo pede — mesmo quando não sabemos ao certo o quê. A terapeuta, Sarah, guiou o ritual com uma precisão quase cirúrgica: pressionou onde era necessário, soltou onde havia tensão, leu cada músculo com a calma de quem sabe escutar o corpo em silêncio. O óleo morno, o aroma subtil, a sala em penumbra — tudo conspirava para desligar.
As marquesas do spa merecem um aplauso à parte: largas, acolchoadas e — o mais importante — desenhadas a pensar nas curvas femininas. O peito pousa, enfim, sem desconforto, sem aquele habitual peso contra a marquesa. Só leveza.
No final da tarde do dia seguinte, reencontrei a Sarah para uma aula privada de yoga. Apenas as duas, numa sala luminosa e serena, com janelas sobre o Douro. O corpo, ainda a lembrar o toque da massagem, encontrou espaço e tempo para se alongar. Respirar tornou-se mais fácil, os pensamentos mais leves. A aula foi o fecho perfeito de um dia cuidado ao detalhe — saí de lá como nova: centrada, alinhada, desperta.
6. O sexto sentido
As pessoas, a história, a arte, a arquitetura preservada, a escolha de Nacho Manzano para liderar a gastronomia. A dimensão do hotel, que nunca pesa. O cheiro certo, o silêncio no ponto, o toque que cura. O Tivoli Kopke Gaia é um cinco estrelas jovem mas já seguro de si, com uma operação afinada, uma equipa atenta e uma vocação evidente para o segmento corporate — há várias salas para reuniões e eventos, e um ritmo de funcionamento que conjuga bem o luxo com a eficiência.
Não é um hotel para turistas de ocasião, mas sim para quem aprecia detalhes e valoriza o tempo. Para quem gosta de ser surpreendido sem ruído, mimado sem cerimónia. Saí de lá com o corpo leve, os sentidos mais despertos e aquela sensação difícil de explicar, mas fácil de reconhecer: a de que tudo ali está no lugar certo. E que apetece voltar.