A Casa do Gadanha nasceu em 2022, pelas mãos de Michele Marques e Ruben Trindade Santos. Este alojamento com 12 quartos no coração de Estremoz foi outrora uma antiga casa senhorial, agora recuperada. Do terraço ao restaurante, fique a conhecê-lo.
Pelos três pisos da Casa do Gadanha é possível testemunhar a herança do século XVIII, por exemplo, na escada que os une ou nos azulejos que os adornam. "Tentámos manter tudo o que foi possível de origem", asseguraram-nos, sobre este turismo de habitação repleto de luz natural.
A cerca de duas horas de carro de Lisboa, a Casa do Gadanha é o destino ideal para quem procura desacelerar. O vagar caraterístico do Alentejo está evidente até no elevador, que, com um ritmo próprio, toma o seu tempo para completar o percurso. O sossego é inevitável durante a estadia.
O pequeno-almoço, servido entre as 9 e as 11 horas (mais coisa, menos coisa), é diferente todos os dias. A nós tocaram-nos opções como iogurte com granola caseira e óleo de manjericão, tosta, presunto, sumos naturais, geleia, queijo, brioche de cardamomo com sementes, leite, café, manteiga, salada de frutas e brioche com ovos mexidos, bacon e cogumelos.
"O normal é haver grandes buffets, mas eu não acredito em buffets. Há tendência para reutilizar. Torna-se uma salganhada", defende o chef executivo, Ruben Trindade Santos, cujo percurso passou por locais como o Vila Vita Parc e o Altis Belém.
"O que se quer aqui é um ambiente informal, caseiro e um serviço com qualidade", esclarece Ruben Trindade Santos. "Temos uma relação de proximidade com o cliente, mais intimista, com programas taylor made. O cliente já vem à procura disto. Mais de 70% volta. Os estrangeiros identificam-se mais", adianta.
As experiências passam, por exemplo, por visitas ao vizinho Museu dos Bonecos de Estremoz, que são feitos e pintados à mão, ao Museu Berardo Estremoz, que detém a maior coleção pessoal de azulejos da Europa, ou à Herdade do Monte Branco, a sete minutos de carro, ideal para fazer uma prova de vinhos locais.
Por mais coisas giras que existam para fazer nos arredores, é obrigatório (não é, mas devia ser) passar umas valentes horas a fazer nada no terraço. Dos puffs às espreguiçadeiras, à sombra ou ao sol, este rooftop convidativo é, para nós, a melhor divisão da Casa do Gadanha.
Tem um tanque cuja profundidade de um metro chega e sobra para refrescar do calor alentejano e uma vista incrível, que inclui o Castelo de Estremoz. Durante o verão, são aqui organizados sunsets com DJ e música ao vivo, bem como tardes de espumante e caviar.
Das 18 às 23 horas são servidos snacks (como pizza). É também durante este horário que o rooftop está aberto para passantes, de sexta-feira a domingo. Os petiscos podem ser complementados com as bebidas preparadas no bar interior. São cerca de 22 os lugares disponíveis para abancar e desfrutar.
A sala de estar com lareira é outro dos cantinhos especiais da Casa do Gadanha. Aqui, o chão é o original do palácio (que chegou a ter 35 salas). Há ainda uma máquina de café e chá, sofás e mantas. Por todo o alojamento encontramos detalhes que fazem a diferença, desde arte a antiguidades.
Embora exista uma dúzia, cada quarto é único. Espalhados por dois pisos, dividem-se pelas tipologias cidade e superior. Recebem até dois adultos e uma criança (a partir dos 8 anos, a idade aceite neste alojamento), sendo possível colocar uma cama extra. A Casa do Gadanha consegue acomodar até 24 pessoas em simultâneo.
O maior quarto, o n.º10, tem 24 metros quadrados. Já o 8 é o único com varanda. Os quartos diferem em termos de espaço e de luminosidade, mas também em detalhes como as cores dos azulejos presentes nas casas de banho. E ainda sobre detalhes, fomos recebidos com bolachas caseiras e flores.
O restaurante deste alojamento é liderado pelo chef Ruben Trindade Santos, cujas viagens pelo Mundo influenciam as ementas, que mudam consoante a época. "Mantemos as proteínas da carta, mas mudamos os pratos", explica o responsável, que visa evidenciar a autenticidade, a qualidade e a frescura dos produtos alentejanos.
"Prefiro trabalhar com produto regional. Podemos ajudar e dinamizar a economia local. Temos de começar a democratizar o produto", defende o chef. "Tem de haver muito entusiasmo quando falamos com os clientes", acredita, ainda.
Aberto ao público, este restaurante é o palco de Francisca Dias, que, em 2021, venceu a primeira edição do "Hell's Kitchen Portugal", uma "experiência social que, na altura, fez sentido". A pupila de Ljubomir Stanisic (100 Maneiras) e de João Rodrigues (Feitoria) está no projeto desde o início, depois de ter sido convidada por Michele Marques.
Francisca Dias foi casar-se com Tânia a Estremoz, "por acaso". Mais tarde, numas férias românticas, regressou a esta cidade do distrito de Évora. Acabou a tomar café com a brasileira, que precisava de alguém para pôr as mãos na massa. A proposta foi feita num dia e aceite no seguinte. "Já queria trocar de vida e sair de Lisboa", revelou Francisca Dias.
Mudou-se a 1 de novembro de 2021, com o objetivo de "tentar ser diferente". "Se meio Mundo está a usar isto, não vamos usar", decidiu. Cozinheira desde os 11 anos, menospreza o maior dos reconhecimentos do ramo. "É chato, robótico e monótono. Não quero voltar. Não quero a estrela", assegura. O restaurante está no Guia Michelin 2024.
Com 24 lugares no interior e 16 na esplanada, este restaurante que serve almoços (das 12h30 às 14h30) e jantares (das 19h30 às 21h30) encerra à quarta-feira e à quinta-feira. Conta com um forno a lenha, que contribui para o resultado final daquilo que é um dos melhores pães que já comemos. Fofo e estaladiço na proporção certa, não resistimos a trazer um inteiro para casa.
E como nós há muitos. "Há quem venha cá só para comprar o pão", garantem, aconselhando a molhá-lo um pouco antes de o colocar no forno. Este pão de fermentação natural e lenta é a estrela do couvert. Para o melhorar, houve azeite de oliva, manteiga de porco preto com paprica fumada e creme de azeitona com óleo de cebolinho.
O menu de degustação de oito momentos é a melhor forma de conhecer a oferta gastronómica da Casa do Gadanha (e, consequentemente, de saborear o Alentejo). Começámos com um croquete de pato com mostarda e um tártaro de atum com maionese de ostra, tostas e muxama, o "presunto do mar". E que arranque.
As expectativas mantiveram-se elevadas com o ovo de codorniz estrelado com gamba da costa, molho de gamba da costa e caviar. Fomos aconselhados a "misturar tudo muito bem para sentir os sabores todos" e assim o fizemos. Uma mistura interessante de ingredientes, que culmina num match perfeito.
Seguir-se-ia o capítulo mais inesperado desta degustação: a beringela com caju, hortelã, nata e chimichurri, à qual torcemos o nariz. Depois de provarmos esta proposta, descobrimos que, afinal, gostamos de berinjela — desde que seja bem feita, como é o caso.
A lula grelhada com alho francês, limão, manteiga fumada e pó de alho francês não destoou dos predecessores, assim como a pescada com acelga, molho de peixe e lingueirão, que nos mostrou que a nossa arqui-inimiga de infância, a pescada, também merece perdão.
Não podia faltar a clássica presa de porco preto, que veio acompanhada por compota de cebola e nabiça, um prato "inspirado no Médio Oriente", assim como nos elucidou Francisca Dias. "Usamos sempre muitos frutos secos, bocadinhos de coisas que nós próprios vamos apanhando", acrescentou.
Para sobremesa, um pudim de abóbora com nougat e sementes de abóbora, que lembra um creme brulée. A segunda sobremesa emblemática, que teremos de provar quando voltarmos, leva cogumelos e chocolate. Uma junção que nos causaria um maior preconceito se não tivéssemos já provas suficientes de que a dupla Ruben e Francisca sabe o que faz.
O nome "Gadanha" já ecoa por Estremoz há 13 anos, quando Michele Marques inaugurou a Mercearia Gadanha. Três anos depois, juntou-lhe a vertente de restaurante. Agora, os melhores produtos alentejanos não só podem ser comprados como consumidos neste espaço.
A brasileira fez de Portugal casa em 2005. Veio em trabalho, depois de se formar em Comunicação Social. Quanto ao marido, "aos 13 anos já fazia caldeiradas e cabidelas". "O culto de comer sempre foi muito presente na minha família", assegura Ruben Trindade Santos.
Um mochilão pela América do Sul e algumas experiências de fine dining depois, foi parar à cidade branca. "A melhor parte de ir a Lisboa é o regresso", acredita o cozinheiro, que saiu da capital para estar com a companheira, por quem se apaixonou há uma década. "Foi a melhor coisa que fiz", admite.
A estadia por noite nunca custa menos de 100€. Uma escapadinha para dois adultos de 26 a 28 de julho (sexta-feira a domingo) ficaria por 504€, assim como verificámos na simulação efetuada no site oficial desta "casa de campo no centro da cidade".