A Mercearia Gadanha já se tornou um ícone de Estremoz. Inaugurada há 13 anos, em 2009, está a funcionar também como restaurante há dez. Depois de uma refeição neste cantinho alentejano, entendemos o porquê de ter sido selecionado para o Guia Michelin de 2020, 2021 e 2023.
A pouco mais de duas horas de carro de Lisboa, este espaço dedicado aos produtos da região é uma montra — mas daquelas a que não conseguimos virar a cara, e que nos convencem a entrar, a gastar e a regressar.
Além de exibir o que de melhor é feito nas redondezas, dando palco aos pequenos produtores, privilegia a qualidade, a excelência e o sabor. Inicialmente, a mercearia contava com uma seleção cuidada dos melhores vinhos, presuntos, chás, chocolates artesanais, enchidos e queijos.
Era possível prová-los, com tapas e vinho, mas não tardaram a aparecer opções mais elaboradas. Os clientes aprovaram e o novo restaurante da "cidade branca" alentejana surgiu pouco depois. Assim, o projeto conta com três vertentes: mercearia, restaurante e garrafeira.
A Mercearia Gadanha nasce do sonho de Michele Marques. Natural do Rio de Janeiro, no Brasil, vive em Portugal desde 2005. Os pratos e as panelas passaram a fazer parte da sua vida desde cedo. Depois de se formar na área da comunicação e também na da gastronomia, põe em prática todos estes anos de experiência (enquanto chef e cofundadora) na Mercearia Gadanha.
Este espaço, que funciona de quarta-feira a domingo, serve-se de alguns dos produtos regionais à venda na loja para as sugestões que apresenta (que podem e devem ser emparelhadas com os vinhos cujas origens vão do alto ao baixo Alentejo). E que sugestões são estas? Pratos tradicionais, reinterpretados com o olhar criativo de Michele Marques.
A nossa refeição começou pelo couvert, com pão, azeite, azeitonas e manteiga aromatizada (6€), e pelos estaladiços pastéis de cação, uns pastéis de massa tenra recheados com cação e creme de coentros e alho (16,50€). Seguir-se-iam os croquetes de borrego com maionese caseira de alho assado.
Esta junção é ainda melhor do que soa (e já queremos um frasco inteiro desta maionese no nosso frigorífico, bem como uma dúzia dos croquetes no nosso congelador). Quatro unidades custam 14,90€. Ainda nas entradas, comemos uma "sobremesa": queijo de cabra gratinado com pickles de pêra, mel, nozes e gelado de tomilho (16,50€).
As pernas e peitos de codorniz fritos em azeite e ervas aromáticas (16,50€) estavam deliciosas, assim como a presa de porco preto com molho de berbigão e migas de coentros (28,50€), uma criação que tem tanto de imaginativa como de acertada.
E se já estávamos no céu, o arroz cremoso de gambas, bisque, citrinos e coentros (26,50€) fez-nos pensar que duas horas de carro não custam assim tanto quando é este o destino. Para terminar, maçã e poejos e chocolate e avelã.
Um dos pares é composto por texturas frescas de maçã e poejo com gelado de leite de ovelha e crumble de canela (14,50€) e o outro por texturas cremosas e crocantes de chocolate e avelã (14,50€). A apresentação é extraordinária, assim como o sabor.
Para beber, há vinho a copo desde 5€, sumo natural a 3,50€, água, cerveja (2€) e bebidas de cafetaria, entre outras opções que jogam bem não só com os produtos, mas também com as tradições alentejanas concebidas com técnicas contemporâneas e servidas com uma apresentação moderna.
Da simpatia do staff ao ambiente acolhedor, torna-se óbvio que, na Mercearia Gadanha, privilegiam um ingrediente: o amor. Ingrediente este ao qual se juntam a dedicação, a criatividade, a atenção ao detalhe e a arte de bem receber. Para nós, uma paragem obrigatória durante uma ida a Estremoz.
Nesta visita, pode aproveitar para ficar na Casa do Gadanha, uma casa de campo no meio da cidade, que recebe hóspedes desde 2022. Conta com 12 quartos, um rooftop e um restaurante liderado por Ruben Trindade Santos, marido de Michele Marques (e igualmente talentoso).