Chegar de comboio ao Peso da Régua, onde fica o Torel Quinta da Vacaria, recomenda-se, porque é outra a magia da viagem. A linha passa mesmo ao lado do hotel, e as suas idas e vindas são uma lembrança do passar das horas que, de outra forma, não se sentiria, tal é a calma com que o Torel Quinta da Vacaria nos envolve. Quando aqui se chega, é-se abraçado pelo calor da lareira, o aroma da lenha que arde lentamente, aconchega-nos. Estamos em casa.

Aberto desde agosto de 2024, o Torel Quinta da Vacaria nasce da parceria entre a histórica Quinta da Vacaria e o grupo Torel Boutiques. A origem da quinta remonta a 1616, o que faz desta propriedade vinícola de 60 hectares uma das mais antigas na produção de vinho do Porto e vinhos DOC.

Integrado na paisagem duriense e com vistas deslumbrantes sobre o rio e os socalcos das vinhas, este boutique hotel de 5 estrelas tem 33 quartos e suítes, distribuídos por três edifícios e nove tipologias distintas, todos eles concebidos com um design sofisticado, assinado por Joana Astolfi. A decoração segue o conceito “A Way of Silence”, apostando na valorização dos materiais e na fusão entre tradição e contemporaneidade. Madeira de carvalho e nogueira, azulejos portugueses, cerâmica artesanal e peças exclusivas de designers internacionais criam um ambiente requintado e acolhedor. A curadoria artística inclui obras de artistas nacionais como João Penalva e Helena Almeida, reforçando a identidade cultural do espaço.

O hotel conta com dois restaurantes de conceitos distintos, dois bares e um dos maiores spas da região, com cerca de 1000 metros quadrados. A piscina interior, as áreas de relaxamento e os jardins paisagísticos, que preservam a flora autóctone da região, completam o ambiente exclusivo deste refúgio duriense.

Durante a visita da TRAVEL MAGG ao Torel Quinta da Vacaria, Ingrid Koeck, sócia e responsável de comunicação do grupo Torel Boutiques, foi uma das nossas cicerones. A austríaca, que andou metade da vida a fugir da hospitalidade (a avó tinha um pensão e os pais um restaurante), acabou por se encontrar aqui. Depois de uma década a trabalhar nas Nações Unidas, decidiu que queria "abrir um pequeno alojamento local, perto do mar". Regressou à Áustria, comprou um carro e, como se costuma dizer por aqui, veio andando. Até chegar a Portugal.

O objetivo de abrir o seu próprio espaço acabaria, no entanto, por ficar pelo caminho. "Era difícil, sendo mulher e estando sozinha. Portugal ainda é um país muito conservador", admite Ingrid. O seu caminho acabaria por cruzar-se com o grupo Torel Boutiques, quando existia apenas o Torel Palace, em Lisboa. "Fui lá. Já tinha feito o tour por Lisboa mas não conhecia este lugar. Achei incrível! O João Pedro Tavares, o nosso CEO, e na altura, a Barbara [Ott], convidaram-me para participar no projeto", recorda. "Foi assim que tudo começou. Encontrei, por acaso, um apartamento mesmo quase ao lado do hotel. Nada acontece por acaso!", conta.

1 - Tarde à lareira, de copo na mão, noite de sonho, manhã de contemplação

Rima, sim senhor. Acham piroso? É porque nunca passaram por estes três momentos. Chamemos-lhe a Santíssima Trindade de Inverno do Torel Quinta da Vacaria. Há hotéis que têm lobbies que são imponentes, outros frios, outros luxuosos e outros ainda de fugir. A deste hotel não é nenhuma dessas coisas. A lareira e o grande sofá branco são o epicentro nesta parte do edifício. Ali se chega, dali se parte e ali se podem passar horas infinitas, a olhar para a lenha a arder vagarosamente, de preferência com um copo de vinho na mão.

"A ideia é que, aqui, as pessoas se sintam em casa e não se sintam preocupadas com o que estão a vestir", explica-nos Paulo Silva, assistente de direção do Torel Quinta da Vacaria, detalhando ainda que, assim que os hóspedes chegam, são convidados a sentar-se à lareira e a degustarem um vinho do Porto, enquanto os procedimentos para o check in são realizados.

É nesse estado de espírito que continuamos quando, no quarto ou na suíte eleita, descansamos o corpo e o espírito, sempre com o Douro na mira. Todas as unidades das 9 tipologias estão viradas para o rio e alguns quartos têm mesmo um pequeno tanque na varanda, para os amantes de um momento refrescante depois de um dia ao sol. O Torel Quinta da Vacaria não lhe diz para não ver televisão mas esconde-a convenientemente atrás de um grande vidro semi-opaco. Tal engenho decorativo é eficaz ao ponto de, por momentos, nos termos esquecido que o mundo lá fora existia.

Veja o quarto onde ficámos

2 - Pink Tonic no Barbus e pá de cordeiro assada no 16Legoas

Uma légua terrestre são aproximadamente 4,8 quilómetros. 16 são as léguas que separam o cais da Quinta da Vacaria do Porto, descendo o Douro. 16Legoas, escrito assim mesmo, à moda antiga, é o nome do restaurante do Torel Quinta da Vacaria onde se podem fazer refeições mais despretensiosas, fortemente alicerçadas nos ingredientes locais e na cozinha tradicional portuguesa, ao almoço e ao jantar. É também neste espaço luminoso que, pela manhã, é servido um pequeno-almoço bastante interessante, do qual destacamos as compotas caseiras e a kombucha artesanal (ficámos fãs da de beterraba).

Compotas artesanais no pequeno-almoço do Torel Quinta da Vinha
Compotas artesanais no pequeno-almoço do Torel Quinta da Vinha Compotas artesanais no pequeno-almoço do Torel Quinta da Vacaria

De volta ao 16Legoas. Nas refeições que fizemos no 16Legoas, provámos "à Brás" de legumes, cogumelos e espargos da região (15€), prato vegetariano muito bem confeccionado, um creme de abóbora Hokkaido e cenoura (9€) delicioso. Foi-nos também dado a provar os ex-libris da carta: a pá de cordeiro assada (24€), que é servida num tacho de ferro, numa cama de arroz tostadinho, pecaminosamente guloso; o arroz de robalo de anzol com pimentos e coentros (50€, duas pessoas), malandrinho como só os portugueses o sabem fazer e, para nós, o melhor desta digressão pela carta do 16Legoas: o arroz de rabo de boi com feijão e hortaliça (40€, duas pessoas). É igual ao da vossa avó, só que melhor, porque é comida de tacho servida num restaurante de 5 estrelas, com vista para o Douro. Nos doces, a tarte de queijo de cabra com figo do Douro confitado em Porto Quinta da Vacaria 10 anos Tawny e especiarias (16€) foi o final perfeito da refeição.

Torel Quinta da Vacaria - 16 Legoas e Barbus
Torel Quinta da Vacaria - 16 Legoas e Barbus pá de cordeiro assada (24€) créditos: Luis Ferraz

Seja para um aperitivo, um lanche ou um snack mais ligeiro, a passagem pelo Torel Quinta da Vacaria não fica completa sem um momento de contemplação (ou conversa) no Barbus. Para contemplar os pormenores deliciosos da decoração de Joana Astolfi, que nos brinda com surpresas em cada recanto do hotel e também para um cocktail. A nossa sugestão é um Pink Tonic (6€), um Porto tónico feito com a prata da casa, Porto Quinta da Vacaria Pink.

3 - Uma massagem no spa, seguida de um mergulho na piscina

Calla Wellness & Spa é o nome do espaço onde o lema do Torel Quinta da Vacaria, "A Way of Silence", se concretiza de forma mais perfeita. Das 8h da manhã às oito da noite, podemos refugiar-nos aqui, entre sauna, duches vichy, piscina interior aquecida, com vista para o Douro, ou apenas descansar numa das espreguiçadeiras, aconhechegados num confortável roupão. Ou, então, entregar o corpo e o espírito nas mãos de uma das terapeutas do spa.

A marca portuguesa de produtos de cosmética Oliófora é uma das usadas no Calla para os tratamentos de corpo. O spa tem vários tratamentos de assinatura de corpo e rosto, além de massagens de relaxamento, energizantes, rituais de banho com ervas ou vinho do Porto. O nosso corpo ficou relaxado com a Perfect Dream Massage (135€, 60 minutos), um ritual de tranquilidade que nos deixou prontos para uma noite de descanso no nosso quarto Maravilha (era mesmo o nome do nosso quarto. Adequado, de resto).

Depois de tanto relaxamento, e apesar de ser inverno, decidimos testar a piscina infinita exterior. Não só por ser absolutamente linda, com vista para o Douro e para as vinhas, mas porque, como cantavam as Azúcar Moreno, "solo se vive una vez". Calculamos que, no Verão, esta piscina seja o sítio onde, de manhã à noite, todos os hóspedes queiram estar (de preferência de copo na mão). Com o tempo mais frio, só para os mais corajosos. Se valeu a pena? Valeu. Cada segundo.

4 - Um passeio pela Quinta, dos jardins à adega, passando pela horta

Com menos de um ano de vida, o Torel Quinta da Vacaria está ainda em desenvolvimento. O coração do hotel está pronto mas ainda há muitas novidades a caminho. A que não depende só da mão do homem é a horta e a vinha. A segunda porque há-de crescer, como acontece desde o século XVI, dando o seu fruto para ser transformado. A primeira porque foi recentemente criada e só lá mais para o verão produzirá produtos frescos, sombra e recantos bonitos para passear. É aqui que vai também nascer um percurso de grounding, atividade que promove a estimulação sensorial através do acto de caminhar descalço sobre vários tipos de superfícies.

O hotel promove várias caminhadas, que podem ser mais curtas, como um passeio pela vinha, ao longo das margens do Corgo e do Douro, que ladeiam a propriedade, ou mais longas e desafiantes, como a subida até à Casa da Vinha (nós, temos de confessar, fomos de jipe, à boleia de Mónia Batista, responsável de Enoturismo da Quinta da Vacaria). Além do sítio mais romântico do Douro para fazer casamentos, a adega vai ter quatro salas privadas para provas. Já pronta está a incrível sala vintage, uma fabulosa mesa redonda com um não menos fabuloso candelabro de filigrana, do qual só há dois exemplares.

Adega e vinha - Quinta da Vacaria
Adega e vinha - Quinta da Vacaria A sala de prova da adega da Quinta da Vacaria

O Fumos, restaurante de cozinha tradicional com fogo, onde vai ser possível degustar carnes grelhadas e comida tradicional do Douro, também está a ser ultimado. Como nos relatou Mónia Batista, na próxima vindima o terraço do Fumos já será palco da seleção das uvas para a produção de vinho, uma atividade na qual visitantes e hóspedes poderão participar.

5 - Um bailado gastronómico no Schistó

Aberto desde 8 de março, o Schistó é o espaço do Torel Quinta da Vacaria dedicado ao fine dining, com a consultora do chef Vítor Matos. Aqui há apenas 7 mesas, cada uma com 2 lugares, todas viradas para uma cozinha aberta. A equipa liderada pelo chef Vítor Gomes, em conjunto com a sous chef Carolina Columbano, executa, ao longo de duas horas, um bailado relaxante, um ritual cerimonial do qual os comensais são, ora espectadores, ora participantes. Com muitos produtos fornecidos pelos vizinhos da Quinta da Gregoça, o Schistó aposta nos ingredientes locais e sazonais. A médio prazo, assim permita a Natureza, a horta do hotel desenvolver-se-á, permitindo uma maior autonomia.

"É um conceito diferente, trazer os clientes para dentro da cozinha, se bem que damos um bocadinho de espaço para estarem mais resguardados, a observarem toda a ação", começa por explicar Vítor Gomes. Apesar do pouco tempo de vida do Schistó, o chef diz que "a reação tem sido bastante positiva". "As pessoas ficam surpreendidas pelo ambiente calmo, porque têm a ideia de que uma cozinha é sempre muito agitada. Nós tentamos ser equilibrados. Obviamente que temos de trabalhar e é isso que queremos mostrar: o que é cozinha, e não só os pratos", salienta o chef.

Podemos - e vamos - falar das criações de Vítor Matos, que já conta com cinco estrelas Michelin no regaço e que, para o seu projeto na Quinta da Vacaria, desenhou pratos onde brilham os ingredientes durienses. Mas antes temos de destacar o profissionalismo de uma equipa muito jovem, de fazer inveja a coletivos bem mais experimentados, em locais com muito mais quilometragem, digamos assim.

Vítor Gomes, Carolina Columbano e Vítor Matos
Vítor Gomes, Carolina Columbano e Vítor Matos Vítor Gomes, Carolina Columbano e Vítor Matos

Coordenados como um relógio suíço, os membros da equipa chefiada por Vítor Gomes entregam uma refeição sem salamaleques pomposos mas com uma sobriedade e confiança que nos fazem querer voltar, não só para voltar a provar ps pratos mas também para a apreciar a forma como executam a coreografia. Um destaque especial para Carlos Eduardo, o jovem sommelier do Schistó, que tem a difícil tarefa de fazer um pairing de vinhos apenas com a produção da casa. Que é ótima, claro que sim, mas que acaba por se tornar limitativa para o paladar ao fim de alguns pratos (embora pudéssemos beber o Quinta da Vacaria Espumante Cuveé todos os dias).

Veja as fotos do espaço

Os peixes de rio têm, no Schistó, o destaque que merecem, em pratos onde são estrelas e a nossa única queixa vai para o facto de não termos tido uma quantidade maior daquele delicioso arroz de grelos que acompanhava o borrego. Apesar de serem necessários alguns ajustes no tamanho das doses (e dispensávamos também a empada de perdiz), valorizámos o tempo em que estivemos à mesa. Nem pouco, nem demasiado. Suspeitamos que não faltará muito tempo até o Schistó chamar a atenção dos inspectores do Guia Michelin...

Veja o que comemos no Schistó

O menu degustação, composto por 10 momentos, tem o custo de 180€ por pessoa. Pode juntar o pairing de vinhos, por mais 80€ por pessoa. O Schistó está aberto apenas para jantares, de terça-feira a sábado.

Uma noite para duas pessoas no Torel Quinta da Vacaria, num executive deluxe room, começa nos 494€, de acordo com simulação no site do hotel para o fim de semana de 4 e 5 de abril.

Fotos: Bruno Gonçalves, Luís Ferraz e TRAVEL MAGG
* a TRAVEL MAGG visitou a Quinta da Vacaria a convite do Torel Boutiques

Torel Quinta da Vacaria
Quinta da Vacaria, 5050-364 Vilarinho de Freires, Portugal

Contactos

  • Hotel: +351 254 240 242; info@torelquintadavacaria
  • Quinta da Vacaria: +351 964 430 091; geral@quintadavacaria.pt
  • Loja: +351 964 430 091; loja@quintadavacaria.pt

Site, Facebook e Instagram

Schistó
Aberto de terça-feira a sábado, apenas ao jantar, das 19h30 às 22h30
Contactos: +351 254 247 228; info@schisto.pt
Site e Instagram