Quando pensamos em Itália, há várias cidades que tomam a nossa mente de assalto de forma quase instintiva: Roma, Veneza, Milão e a lista continua. Contudo, as maravilhas italianas estendem-se para lá destes destinos mais turísticos – e exemplo disso é a região da Toscana, que fica no centro do país.

Zona de paisagens desarmantes, que ora são regadas a colinas verdes, ora a uma riqueza de estilos arquitetónicos que pendem entre o medieval e renascentista, passando ainda por cenários em que ambos estes universos se casam na perfeição, uma coisa é certa: o que não falta são locais para alimentar a alma, com muita história e cultura, e o corpo, fruto das iguarias mais estonteantes que a zona oferece.

A MAGG passou três dias nesta região, indo à descoberta de uma tríade de diferentes destinos – Viareggio, Lucca e Pisa –, que nos surpreenderam por diferentes motivos. Foi precisamente nesta última cidade, mais conhecida por fazer com que os turistas se vergam (literalmente) aos encantos da Torre Inclinada, que aterrámos.

Afinal, é para o aeroporto desta cidade, intitulado à imagem do mais conhecido astrónomo e físico que lá viveu, Galileo Galilei, que a Easyjet faz dois voos diretos por semana. Partindo do Porto, mais precisamente do aeroporto Francisco Sá Carneiro, estará em Pisa em menos de 3 horas, sendo esta cidade apenas o ponto de partida de um roteiro rico. E nós contamos-lhe tudo aquilo que precisa de saber.

Pisa

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Visitar os monumentos da Praça dos Milagres

Ao chegarmos a Pisa, dizem-nos que a cidade tem um coração pulsante, mas que poucos conhecem. "Todos se ficam pela Torre Inclinada", explica Fabrizio Quochi, representante da Câmara de Comércio, apelidando a restante cidade de "Pisa escondida". E a verdade é que há muito mais para descobrir, a começar pela própria área que circunda este monumento.

Os três marcos mais famosos da cidade concentram-se na Piazza dei Miracoli (ou Praça dos Milagres, em português): o campanário, mais conhecido como a Torre Inclinada, a Catedral e o Batistério, dedicado ao pregador São João Batista. Comecemos por aquele que é responsável por atrair milhões de turistas.

A Torre de Pisa começou a ser construída em 1173 e, nos primeiros anos, quando ainda só o segundo andar estava erguido, aperceberam-se daquilo que a caracteriza: a inclinação, causada pelo solo argiloso em que assentava. Foram necessários 90 anos para se certificarem de que esta não iria ruir para continuarem a construção.

Quase dois séculos separam o início e o fim deste processo, com alguns trabalhos de manutenção pelo meio. Em 1990, a torre teve de ser endireitada em 40 centímetros e, atualmente, tem a mesma inclinação que tinha há dois séculos atrás. Ainda assim, subir os 251 degraus até ao topo não é menos desafiante por causa disso.

Nos relvados amplos que pintam esta praça, que pode ser observada do algo da muralha medieval que a circunda, encontra-se também a Catedral de Pisa. Esta destaca-se pela sua arquitetura própria, que pisca o olho ao estilo românico-pisano. A sua construção começou em 1064 a cargo do arquiteto Buscheto e, na sua decoração, participou, entre 1173 e 1180, o grande escultor Bonanno Pisano.

O Batistério de São João também não é de descurar, uma vez que se assume, de igual forma, como uma fusão de estilos arquitetónicos. O estilo românico do piso térreo deu lugar ao gótico da galeria superior e da cúpula – aliás, foi a construção desta última parte que fez com que a acústica se tornasse perfeita, fazendo com que haja sempre alguém usufrua do eco duradouro para cantar de meia em meia hora.

A estes monumentos junta-se o Cemitério Monumental, repleto de frescos do século XVI e XVII. Embora se encontrem danificados, fruto de um incêndio de 1944, provocado pela queda de uma bomba norte-americana no âmbito da II Guerra Mundial, não deixam de ser registos imponentes da história.

Para poder visitar a catedral e um dos outros monumentos, excluindo a torre, há um bilhete que custa 7€ – e existe outra modalidade que, por apenas mais 3€, garante uma visita a este último trio. Já a Torre Inclinada tem um custo de 20€.

Descobrir o Museo delle Navi Antiche di Pisa

Pisa é atravessada pelo rio Arno, em cujas águas se refletem os tons alaranjados que compõem as casas que ficam no seu leito. Nem sempre foi assim, porque este não era o único curso de água de que a cidade se munia – é que se hoje está a 10 quilómetros do mar, em tempos idos já distou apenas quatro da costa. E há um museu que vem precisamente confirmar esta antiga proximidade.

Localizado num antigo estaleiro, o Museo delle Navi Antiche (museu dos navios antigos, em português) abriu apenas em 2019, mais de duas décadas depois de uma descoberta que veio a ajudar a escrever um capítulo da história marítima da cidade. Em 1998, obras numa estação ferroviária culminaram na descoberta de antigas embarcações romanas, datadas do século II a.C ao século V d.C, que estavam em excelente estado de preservação.

Além disto, foram descobertos também outros artefactos. De antigas vestes de marinheiros a restos mortais dos mesmos, passando por aquilo que transportavam, como moedas, ânforas e uma panóplia de outros utensílios, tudo isto serve de prova ao facto de Pisa já ter sido um grande centro comercial e marítimo.

O bilhete que lhe dá acesso a todas as salas custa 10€, para pessoas com mais de 65 anos, valor que desce para metade no caso de estarmos a falar de visitantes dos 6 aos 18 anos. Se for em grupo (com mais de 10 pessoas), o bilhete ficar-lhe-á por 8€ – além de haver uma modalidade familiar, através da qual dois adultos e duas crianças podem visitar o museu por apenas 20€.

Aproveitar a vista do Hotel Royal Victoria

Podemos estar em qualquer canto do mundo, mas há uma verdade que é transversal a todos eles: não há melhor forma de aproveitar a paisagem do que fazê-lo através do ponto mais alto que conseguirmos encontrar. No nosso caso, em Pisa, esse prazer foi-nos concedido no terraço do Hotel Royal Victoria, a unidade mais antiga da cidade.

De portas abertas desde 1050, o próprio nome tem raízes históricas: dizem-nos que remonta a uma batalha de 1428 entre florentinos e pisanos, da qual os primeiros se sagraram vencedores e hastearam a sua bandeira na torre do hotel, gritando "vittoria" (vitória, em português). E embora não seja desde a sua fundação, este está sob a alçada da mesma família desde 1837.

Apesar das mudanças, o charme do Royal Victoria permanece intacto, com uma coleção de gerânios centenários e eventos como degustações de vinhos. E é subindo até ao último piso, ao qual se segue uma escadaria íngreme e por restaurar, que os visitantes (não só hóspedes, atenção) são recebidos com uma vista panorâmica para a cidade que é, no mínimo, de cortar a respiração.

De um lado, o rio Arno e os edifícios construídos ao longo das suas margens. Do outro, os monumentos emblemáticos – incluindo a Torre dell’Orologio, localizada na Igreja de São Nicolau, a segunda torre inclinada de Pisa. Ao fundo, o mar, as montanhas e as várias indústrias locais, que vão da produção de azeite e vinho à extração de mármore de Carrara.

Se quiser ficar hospedado nesta unidade de três estrelas – que até já acolheu Mário Soares –, o Royal Victoria tem 38 quartos, dos quais 17 oferecem vistas para o rio. Há opções para todos os orçamentos: durante a época temporada (de março a outubro), os preços dos quartos, com pequeno-almoço incluído, pendem entre 140€ e 150€ por noite no que diz respeito aos quartos mais luxuosos. Já os mais simples fixam-se entre os 100€ e os 120€ por noite.

Lucca

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Fazer uma visita guiada pela cidade

Lucca fica a escassos minutos do aeroporto de Pisa. Chegando a esta localidade, é provável que não saiba o que lhe espera – afinal, as imponentes muralhas medievais bloqueiam qualquer vislumbre de vida que teime em fazer-se sentir lá dentro. "É a minha parte preferida. Escondem as beldades da cidade", descreve-nos o motorista – e que forma de o fazer.

Já depois das portas medievais (existem duas em toda a muralha, que tem mais de quatro quilómetros de comprimento e 12 de altura) e entre ruas estreitas, lá se vai dar ao movimento. À boleia de Simonetta Alessandro, guia turística, foi por estes recantos cheios de história que andámos – e não dizemos isto com leviandade.

Exemplo disso é a Piazza dell’Anfiteatro, que fica bem no centro da cidade. Hoje em dia, é ponto de encontro de quem quer pôr a conversa em dia com iguarias no prato e de copo na mão, fruto dos cafés e restaurantes que ali moram, ou de concertos e outros eventos culturais animados. Contudo, já foi paragem obrigatória para quem queria entreter-se com lutas em que gladiadores e leões se assumiam como protagonistas.

Entre as joias arquitetónicas de Lucca, destaca-se a Torre Guinigi. Erguida desde o século XIV, os jardins suspensos no topo oferecem uma visão celestial da cidade e da paisagem toscana circundante. Já Torre Civica Delle Ore, conhecida como a Torre do Relógio, tem cerca de 50 metros de altura e serve não só para marcar a passagem do tempo na cidade, como de ponto de referência para quem se perder.

Estas estruturas, que podem remeter para épocas tão remotas como o século XII, eram utilizadas como casas, fortalezas e eram símbolo de estatuto e poder, com as famílias mais ricas a competir por quem detinha a mais alta. O que também não falta no repertório da cidade são igrejas – só no centro contam-se 30 –, que atualmente são palco de eventos culturais, por exemplo. 

A Catedral de São Martinho, conhecida como "Duomo di Lucca", é outra atração imperdível. Construída no século VI e passando por diversas remodelações ao longo dos séculos, apresenta um casamento de estilos arquitetónicos, como românico, gótico, renascentista e barroco. E se a sua fachada principal, em mármore, já é impressionante, o interior também não fica aquém, já que abriga uma vasta coleção de arte sacra, incluindo pinturas, esculturas e frescos históricos.

Pelo meio de tantas maravilhas históricas, Simonetta Alessandro também faz desvios a pastelarias e outros estabelecimentos típicos, para que os visitantes possam provar iguarias locais, como bucellato – pão de passas com sabor a anis –, e torta coi becchi, que nada mais é do que "um bolo com bicos", composto por acelga, chocolate e pinhão.

Para poder estar perto disto, uma visita guiada pelo centro de Lucca, com duração de cerca de três horas, tem um custo de 150€ para um grupo de 10 pessoas. Se estivermos a falar de grupo mais do que 30 pessoas, acrescem mais 2€ por integrante. Uma visita para um dia completo custará 300€ para um grupo de até 30 pessoas.

Fazer compras no Atelier Ricci

Para os amantes de moda, o Atelier Ricci é um ponto de paragem obrigatória. Sediado no prestigiado Palazzo Orsetti-Cittadella-Mazzarosa desde os anos 90, foi fundado pelo eclético alfaiate Piero Ricci, conhecido como "o Halston de Lucca". Atualmente, o negócio continua vivo e de boa saúde, sendo encabeçado pela filha do artista, Patrizia Ricci.

O atelier está localizado no piso térreo do palacete e é uma obra-prima por si só, já que as paredes estão adornadas com tecidos de seda de Lucca e antiguidades cuidadosamente selecionadas. Os frescos nos tetos, da autoria de artistas de renome, dão-nos uma sensação de opulência logo à entrada.

Cada uma das cinco salas do atelier é meticulosamente decorada em tons distintos, criando atmosferas únicas. E além de ser o lar da mestria de Patrizia Ricci, cujos vestidos que cria para as clientes podem ser vistos desde o lado de fora, tornou-se também o epicentro da celebração das artes e artesanato toscanos – isto porque é aqui que estão dispostas várias marcas da região.

Viareggio

Saber mais sobre a história do Carnaval

Quando pensamos em Carnaval, é quase impossível de não associarmos esta tradição aos locais em que esta tem uma gigante e inegável expressão: Rio de Janeiro, no Brasil, Torres Vedras, em Portugal, ou Veneza, em Itália. Mas e se lhe disséssemos que, na Toscana, também há uma cidade em que a folia é igualmente rainha?

Estamos a falar de Viareggio, uma cidade costeira desta região italiana, famosa precisamente por esta tradição, cujas origens datam de 1873. Se tiver a sorte de por lá passar no mês de fevereiro, terá vários fins de semana para poder aproveitar os corsos, onde quilométricos carros alegóricos feitos em papel machê – cada um com o seu tema – percorrem a avenida principal (com mais de um quilómetro) durante três horas.

Se já for fora de época, nada tema: pode sempre aproveitar o facto de a Cittadella del Carnevale (a cidade do Carnaval, em português) estar aberta durante o ano todo e visitar o museu. Afinal, se quiser conhecer melhor esta tradição, mesmo não a experienciando em primeira mão, é lá que vai poder caminhar por uma cronologia da mesma – assim como pelo processo de confeção dos carros alegóricos, que podem chegar a custar até 140 mil euros.

A par disto, a entrada no museu garante-lhe acesso a um dos armazéns que circundam o recinto, que servem de morada a esculturas de edições passadas do Carnaval. O bilhete tem um custo de 5€, preço que desce para 4€ no caso de visitar com um grupo de 15 a 25 pessoas. A entrada é gratuita para menores de 11 anos.