Em meados do século XIX, a elite parisiense viajava essencialmente de comboio. Tal como a maioria das pessoas que necessitavam de ir de um país a outro. Já havia a distinção entre carruagens de primeira classe e carruagens normais, mas nem mesmo os espaços mais caros tinham grande glamour. Foi daí que nasceu a ideia de criar o comboio mais luxuoso do mundo, precisamente para levar a elite parisiense à outra capital do mundo de então, Constantinopla, onde hoje é Istambul.
Foi assim que em 1883 partiu pela primeira vez o Expresso do Oriente, o comboio mais luxuoso do mundo, com verdadeiros quartos, salões de refeições, salões de estar para se fumar e beber. A viagem durava umas impressionantes 72 horas, algo impensável na altura, e passava por várias cidades históricas como Munique, Salzburgo, Viena, Budapeste e Bucareste. A linha terminava na cidade romena de Constança, onde os passageiros apanhavam o barco para Istambul. Até 1977, o percurso teve alterações, rotas distintas, mas o Expresso do Oriente continuou a circular. Chegou mesmo a dar origem a um dos grandes clássicos da literatura, "Crime no Expresso do Oriente", escrito por Agatha Christie, e também adaptado ao cinema. Mas foi nesse ano que o comboio parou. Durante anos, o nome "Expresso do Oriente" foi usado para atrair turistas, em rotas já muito distantes das do comboio original, e também com composições férreas diferentes. Já não era o Expresso do Oriente. Mas o comboio histórico já está totalmente reconstruído e vai voltar aos carris no início de 2025.
"É como se tudo fosse um sonho"
Esta reinterpretação do original "Expresso do Oriente" é uma obra de arte a todos os níveis. São 17 carruagens idealizadas e desenhadas pelo designer francês Maxime d'Angeac, que trabalha regularmente com a Hermès. Os salões glamorosos, os quartos reais, os restaurantes de luxo tudo terá inspiração nos anos 20, no ambiente parisiense do início do século 20, mas com materiais e mordomias atuais, como internet, tomadas USB-C, televisões topo de ganha, colunas de som do melhor. "Tentei reinterpretar a história deste comboio lendário, não apenas com nostalgia, mas com um desejo de prolongar a sua história, de nos transportar para outro lugar. Como se tudo fosse um sonho", explicou o designer Maxime d'Angeac, citado pela "Travel + Leisure".
Uma das carruagens será o bar. A arquitetura é pensada precisamente para ir ao encontro da tal Paris anos 20. Terá quatro colunas com capitéis de bronze e cúpulas de vidro. A carruagem-restaurante, é toda em estilo art déco clássico e vai buscar inspiração aos comboios antigos, com tectos espelhados e tapeçarias.
Haverá quartos normais e suítes com casa de banho própria, no máximo de luxo, e com inspiração nos anos 20. "Alguns hóspedes pensarão que o comboio foi construído na década de 1930. Outros verão que se trata de uma interpretação moderna, mas gostamos de brincar com a noção de tempo e de esbater a linha entre o passado e o futuro", acrescentou Guillaume de Saint Lager, vice-presidente da Orient Express, em declarações à "Travel + Leisure".
Ainda antes da primeira viagem, será possível visitar o interior do comboio numa exposição imersiva que vai decorrer em Paris, de 17 a 21 de outubro. A primeira viagem ainda não tem data fechada, mas será no início de 2025, e também não foram ainda divulgados os preços.