
Numa das cenas finais da comédia romântica "Amor Sem Aviso", Lucy (Sandra Bullock) tem um desarranjo intestinal em plena ponte de Brooklyn, com o trânsito completamente parado. Seria algo que me aconteceria com extrema facilidade e não teria uma resolução divertida, nem um Hugh Grant para me salvar. sto, porém, não é sobre os meus desaires (amorosos e intestinais), mas sim sobre o carro que Lucy conduz (e que fica abandonado na famosa ponte de Nova Iorque). O milionário George Wade sugere-lhe que faça o que tem a fazer no carro e segue-se este diálogo:
George: "É só um Volvo!"
Lucy: "As pessoas não fazem isso em Volvos!"
O filme é de 2002 e o modelo conduzido por Lucy um Volvo 745, a versão carrinha do icónico Volvo 740, lançada em 1985. O meu imaginário associado aos veículos produzidos pela marca sueca tinha parado nesse tipo de modelo: banheiras pesadonas, com uma direção impossível de controlar sem suar do bigode e garantia de segurança absoluta. Ao longo dos meus 24 anos como condutora, a palavra "Volvo" ficou sempre associada a segurança mas também a algum conservadorismo no que toca a design.
Tenham em mente que esta que vos escreve era uma total ignorante no que toca ao setor automóvel. Por isso, quando coloquei as mãos no volante do Volvo EX30 Cross Country Ultra, o espanto foi total e a vários níveis. Para já, estamos a falar de um modelo totalmente eléctrico, um SUV compacto que recupera o conceito Cross Country lançado pela marca sueca há 25 anos. Depois, o design moderno, espelhado tanto na cor exterior (azul nuvem) como na interior (índigo), que empresta aos momentos passados dentro do habitáculo uma sensação sedutora de confiança.

E foi confiançuda que me senti quando, ao longo dos três dias em que conduzi o Volvo EX30 Cross Country, fui várias vezes abordada por várias pessoas. "Olhe, desculpe, o que está a achar do carro? É que estamos a pensar comprar e queríamos falar com alguém que já tivesse experimentado". Das conversas que tive neste tipo de abordagens percebi que a procura encaixa exatamente no propósito: ser um carro versátil mas com grande pendor para o uso fora do contexto citadino e até fora de estrada. Ou seja, para uma família, um segundo veículo para passeios de fim de semana e grandes viagens. Para quem quer ter o prazer da condução em pavimentos desafiantes mas também quer a fiabilidade, aliada à sustentabilidade de um eléctrico (o mais ecológico da Volvo), uma primeira escolha num segmento de preços um pouco mais elevado. A versão que testámos, Ultra, tem um preço indicativo de 56.528 €.

A Volvo promete uma autonomia até 425 quilómetros mas, como já atestámos em testes anteriores com outras marcas, o que fica bonito no papel nem sempre se traduz na realidade. Claro que, se for com o pé bem suave no acelerador, quase sem tocar no acelerador, na viagem Oeiras–Algarve que fizemos, consegue chegar lá sem ter de parar para 'abastecer'. Mas se for como nós, que nos entusiasmámos (sempre em segurança, claro) quando der por si está na estação de serviço de Aljustrel a carregar a bateria.
Ainda sobre promessas, a Volvo promete carregamento dos 10% aos 80% em apenas 26 minutos. Os nossos valores não foram exatamente esses mas confirmamos que a velocidade com um carregador CCS Combo é bastante elevada. O teto panorâmico ajuda a potenciar a sensação de espaço do EX30 Cross Country. A robustez da direção, aliada a uma condução suave mas apetitosa, torna este modelo apetecível para viagens de longas horas. Tivemos a oportunidade de o levar para fora de estrada e, em pisos mais irregulares, o EX30 Cross Country revelou-se obediente e poderoso. Falando em termos mais corriqueiros, é um carro perigoso para quem gosta de andar a assapar. D-E-N-T-R-O D-A-S N-O-R-M-A-S D-E S-E-G-U-R-A-N-Ç-A. Convém sempre reforçar.
5 coisas que adorámos no Volvo EX30 Cross Country
- tecnológico mas fácil de entender: a interface Google (Google Assistant, Google Maps e Google Play Store incluídos por 4 anos) torna a utilização intuitiva e a conectividade com o smartphone fácil e rápida. Em meia dúzia de minutos temos o Waze, o Spotify e a agenda conectada com o carro.

- bancos dianteiros ao estilo gamer: são altos, são largos e o apoio na zona do pescoço e da cabeça é perfeito para não chegarmos ao fim de uma viagem de 3 horas com a cervical a gritar socorro.

- comandos de volante simples e intuitivos: às vezes, temos de admitir, ficamos a olhar para volantes como burros a olhar para um palácio. É tão botãozinho, tanta setinha, que sentimos que precisamos de tirar um curso mesmo antes de arrancar. Não se passa tal coisa com o EX30 Cross Country, que minimizou a presença de botões ao essencial. Lagom*, como dizem os suecos.

- os suportes para copos que merecemos: com ganchos laterais de borracha e com base no mesmo material, para que o copo, a garrafa ou o recipiente térmico à escolha não ande no carro aos trambolhões.

- espaço de arrumação que não acaba: a caixa central entre o condutor e o 'pendura' tem espaço para tudo, mesmo para aquelas pessoas que têm o hábito de colocar a casa dentro do carro. E é removível e lavável, o que é perfeito para aqueles rebuçados, gomas e gelados derretidos que tornam o carro num pega-monstro.

3 coisas que podiam ser melhores
- bancos traseiros podiam ser mais espaçosos: sentámo-nos por alguns minutos nos bancos de trás e até trememos de pensar na ideia de dois adolescentes irem ali numa viagem de umas centenas de quilómetros. Tem o espaço suficiente mas podia ter mais espaço. Três crianças ali numa viagem longa? Boa sorte para lidar com essas possíveis birras.

- bagageira de dimensões modestas: claro que pode rebater os bancos e colocar tudo o que lhe vier à cabeça dentro do carro. Mas, se for viajar com mais de duas pessoas, o espaço é bastante reduzido para levar os tarecos de toda a gente. A coisa fica realmente trágica se, caso tenha crianças, tiver de levar o habitual arsenal de brinquedos e afins. Mas, tal como dissemos acima, este não é um carro para ser o principal de uma família.

- ecrã central muito estreito: uma dificuldade que sentimos ao longo dos mais de 600 quilómetros que fizemos ao volante do Volvo EX30 Cross Country foi conseguir - sem tirar os olhos da estrada - tocar no ecrã central. Fosse para trocar de podcast ou para fazer uma chamada, achámos que a opção de colocar um ecrã na vertical (o que poupa espaço e torna a consola central mais 'limpa') faz com que este fique fora do campo de visão. Ou seja, é preciso mais do que um simples desviar de olhar.

Também podemos ser nós que não temos prática suficiente nestas coisas de conduzir com um ecrã no meio do carro, mas achamos que a consola devia ser um pouco mais larga ou estar mais perto do condutor.
O que distingue este SUV elétrico compacto?
O Volvo EX30 Cross Country combina potência e suavidade: os dois motores elétricos entregam 428 cv e tração integral, tornando cada arrancada ou curva uma experiência controlada e divertida. A suspensão elevada e os pneus opcionais todo-o-terreno permitem enfrentar desde ruas da cidade a trilhos lamacentos com confiança e estilo.
Veja as fotos do Volvo EX30 Cross Country
A bateria de 69 kWh garante autonomia até 436 quilómetros, e com carregamento rápido de 10 a 80 % em cerca de 26 minutos, está pronto para qualquer aventura de última hora. O consumo médio de 18,3 kWh/100 km reforça a sustentabilidade deste SUV compacto sem comprometer o prazer de conduzir.
No habitáculo, o conforto encontra a tecnologia: ecrã central de 12,3’’ com Google Automotive, som premium Harman Kardon, bancos aquecidos e soluções de arrumação inteligentes. A segurança é total, com nove airbags, sistemas de mitigação de colisões e alertas que protegem todos a bordo, mesmo nos caminhos mais exigentes.