
No meio das imponentes montanhas da região de Tigré, na Etiópia, ergue-se um dos locais de culto mais inacessíveis do planeta. Abuna Yemata Guh não é apenas uma igreja. É um desafio de fé e coragem. Situada a 2580 metros de altitude, esta igreja monolítica, escavada na rocha, só é alcançada através de uma escalada arriscada por falésias vertiginosas.
Para chegar a este santuário, os visitantes enfrentam uma subida de cerca de duas horas, que exige atravessar precipícios íngremes e bordas afiadas. A escalada é tradicionalmente feita sem sapatos, inclusive pelas mulheres vestidas com as saias longas tradicionais, e não há qualquer tipo de equipamento de segurança. O que guia os peregrinos e turistas é a confiança nos guias locais e uma determinação espiritual que ultrapassa o medo do perigo.
Uma igreja ancestral, com uma história desconhecida e fascinante
Abuna Yemata Guh continua a ser um local ativo de culto, onde são celebradas missas, reforçando o seu papel vital na comunidade cristã etíope. Datada do século V, esta é uma das igrejas monolíticas mais bem preservadas da Etiópia. O interior revela pinturas murais com mais de 600 anos, cujas cores se mantêm vibrantes graças ao clima seco das montanhas. Estas obras de arte retratam santos, cenas bíblicas e uma Nossa Senhora negra rodeada por santos de pele mais clara — um reflexo da rica tradição artística da Igreja Ortodoxa Etíope. O espaço é uma verdadeira galeria de arte sacra medieval, com teto abobadado e paredes decoradas que deixam qualquer visitante maravilhado.
Esta igreja pertence à Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo, uma das mais antigas denominações cristãs do mundo. A Etiópia foi um dos primeiros países a abraçar o cristianismo, e Abuna Yemata Guh representa esta herança de forma única e dramática. Os fiéis usam uma Bíblia que inclui até 88 livros, escrita em línguas locais como o Ge'ez e o Amárico — muito mais extensa do que as versões europeias tradicionais.
O motivo para a construção da igreja num local tão inacessível permanece um mistério. Alguns estudiosos acreditam que foi uma forma de proteger o local de invasores, enquanto outros defendem que a sua localização elevada teria um propósito espiritual, aproximando os fiéis dos “espíritos celestiais”.
Nos dias de hoje, Abuna Yemata Guh é um destino procurado não só por peregrinos, mas também por aventureiros que querem combinar espiritualidade com desporto extremo. A escalada vertical de cerca de 300 metros é considerada uma das mais perigosas do mundo, e embora atraia turistas, exige preparação física e coragem.
Como uma das mais de cem igrejas escavadas nas rochas do norte da Etiópia, este património cultural depende de um equilíbrio delicado entre manter vivas as tradições locais e gerir o crescimento do turismo internacional. Abuna Yemata Guh é, acima de tudo, um testemunho vivo da resiliência humana em criar espaços sagrados em locais quase inacessíveis, perpetuando séculos de fé e arte.
Como chegar desde Portugal e como visitar a igreja
Para chegar a Abuna Yemata Guh, o ponto de partida é um voo para Addis Abeba. Pode ir até Madrid e, daí, optar por um voo direto até à capital da Etiópia (voos a partir de 860€, de acordo com pesquisa no Google Flights). De Addis Abeba, é necessário um voo doméstico até Axum ou Mekelle — cidades mais próximas da região de Tigré onde se encontra a igreja. A partir daqui, organizam-se os tours terrestres que incluem a escalada.
Worldsun Ethiopia Tours: Tours de um dia, com transporte e guia;
Tanian Ethiopia Tours: Expedições personalizadas na região de Tigré
Brilliant Ethiopia: Pacotes completos com alojamento
Sycamore Ethiopia Tours: Tours de um dia desde Axum, com boas avaliações no TripAdvisor.
Os preços indicativos situam-se entre 200 a 300€ por pessoa para um tour de um dia desde Axum, podendo os pacotes de vários dias chegar a 600-800€. Tours privados custam cerca de 100 a 150€ por dia, não incluindo transporte e alojamento. Geralmente, os tours incluem transporte 4x4, guia local, sacerdote para abrir a igreja, equipamento básico de segurança e almoço tradicional etíope.
A melhor época para a visita é durante a estação seca, entre outubro e março, quando as condições da escalada são mais seguras e as estradas estão em melhores condições.