Imagine-se transformado em puré humano de tomate, a rir e a escorregar pelas ruelas de uma vila que, por um dia, decide alinhar numa loucura pintada de vermelho. É este o convite ácido e irresistível de La Tomatina, a festa que transforma Buñol numa mancha encarnada e que, em 2025, volta a acontecer a 27 de agosto. Para quem pondera aceitar o desafio, há regras, logística e uma pequena cidade por detrás da confusão. Conhecer esses pormenores faz a diferença entre uma manhã épica e uma viagem perdida.

A história começa, como tantas tradições, com uma brincadeira. Segundo a cronologia oficial, em 1945 uma disputa durante um desfile terminou numa chuva de tomates lançada por jovens enfurecidos. A prática foi proibida durante a década de 1950, ressurgiu e acabou por se institucionalizar, sendo declarada "Fiesta de Interés Turístico Internacional" em 2002. La Tomatina é, acima de tudo, um fenómeno social com raízes locais e um ritmo próprio.

Se pensa que La Tomatina não tem regras, desengane-se: a organização publica normas muito claras para proteger participantes e habitantes. Não são admitidas garrafas nem objetos duros, não se rasgam t-shirts alheias, os tomates devem ser esmagados antes de atirar e a batalha, que decorre entre as 12h e as 13h, termina quando soa o segundo fogo de artifício. Leve óculos de proteção, calçado fechado e, se possível, capas impermeáveis para telemóvel.

Para descansar todos os que estão preocupados com o desperdício, os milhares de quilos de tomate usados na Tomatina são de “má qualidade”, ou seja, não são aptos para consumo humano. De acordo com o "20 Minutos", muitos chegam mesmo a ser cultivados especificamente para o evento —podendo, portanto, assumir uma “segunda vida” festiva sem implicar prejuízo alimentar. Além disso, esses tomates são escolhidos por estarem supermaduros, o que os torna mais seguros como projéteis.

Comprar bilhete oficial é obrigatório para a maior parte dos participantes estrangeiros; os residentes de Buñol têm acesso gratuito em determinados termos. De acordo com a organização, o pack básico, que inclui entrada oficial e festa, tem preços a partir de 38€. Já o pack completo, com entrada oficial, paella, sangria e a Tomatina Party, custa 72€. Mais informações no site oficial.

150 toneladas de tomate e um museu que conta a história

Em 2024, Buñol limitou a afluência em cerca de 22 000 participantes e distribuíram-se, segundo a agência Reuters, aproximadamente 150 toneladas de tomate, entregues em vários camiões para abastecer a batalha. Esses dados ajudam a compreender a escala, a logística de limpeza e a urgência de reservar tudo com antecedência.

Chegar e ficar requer algum planeamento. O aeroporto mais próximo é o de Valência, e é habitual pernoitar em Valência e deslocar-se no dia da festa; Buñol fica a cerca de 40 quilómetros e há ligações regulares por comboio e autocarro operadas pela rede de Cercanías/RENFE, com viagens a rondar entre 1h20 e 1h40 conforme horário e percurso.

Quanto ao alojamento, Buñol é pequena e tem oferta limitada de hotéis e alojamentos locais; muitos visitantes escolhem Valência pela oferta hoteleira e ligações, ou reservam cedo em alojamentos rurais próximos. Se decidir prolongar a estadia, Buñol tem alguns pontos de interesse: o Museo de la Tomatina no Molino Galán explica a evolução da festa com salas imersivas e realidade virtual, e o castelo medieval, as ruelas do centro e o Paraje Natural del Turche oferecem alternativas ao caos do grande dia.