A TRAVEL MAGG esteve presente no almoço "Gastronomia Mineira em Portugal", uma experiência gastronómica única, resultante de uma parceria entre dois chefs conceituados, e com o intuito de promover o estado de Minas Gerais em Portugal.
Do queijo aos vinhos, provámos alguns dos ex-líbris da cozinha mineira no restaurante SÁLA, com uma estrela Michelin. Este espaço junto ao Terreiro do Paço, em Lisboa, é encabeçado pelo chef João Sá, que recebeu o chef Caio Soter, responsável pelo Pacato.
Esta colaboração entre o chef natural de Belo Horizonte e João Sá ocorreu no âmbito da "Semana da Cozinha Mineira", dinamizada pelo Governo de Minas Gerais, pelo Grupo Fartura e pela Essência Company, para apresentar os atrativos turísticos, culturais e gastronómicos de Minas Gerais.
"É uma zona muito querida, de que gosto muito, com uma gastronomia super interessante, muita influência portuguesa, produtos pioneiros e cruzamento de culturas", frisa João Sá, antes de dar início a esta viagem criativa que aconteceu na sua SÁLA.
O menu criado pelos dois chefs, em harmonia com tradições portuguesas, surgia disposto numa espécie de carta selada e continha vários momentos de homenagem à cultura e aos produtos deste estado brasileiro reconhecido pela sua rica cozinha, resultado de influências portuguesas, africanas e indígenas.
Um dos grandes destaques é o queijo. Minas Gerais conta com dez regiões queijeiras, onde predomina o de vaca. Provámos um queijo do Campo das Vertentes, com uma acidez pronunciada. "Bem tradicional, feito com leite cru, coalho, sal e maturado durante 20 dias", conforme explicou este chef que privilegia os produtos da terra.
Também nos foi apresentado um delicioso gougère de queijo tipo Minas. "Gougère é uma preparação clássica francesa, recheada de queijo", esclarece o chef Caio. Seguir-se-ia um pequeno, mas poderoso crocante de arroz e alga nori com lírio dos Açores e pimenta biquinho.
Depois, viria uma literal caixinha de surpresas, com a nossa entrada preferida: o niguiri de pão de queijo e barriga de atum (sim, leu bem). Estavam oficialmente abertas as hostilidades. E assim como este niguiri abdicou do arroz, também o risoto o fez. Como?
O prato, que se chamava "Isso não é um risoto", era "um protesto ao risoto". "Porque risoto não tem nada que ver com a nossa cultura alimentar", justifica Caio Soter, que trocou o grão de arroz pelo de milho, resultando numa proposta doce e bastante diferente.
O peixe galo com sabores de caldeirada e pequi do cerrado foi um dos pratos mais polémicos, já que, como o nome indica, contém pequi. Entrámos no SÁLA sem saber da existência desta fruta e saímos sem vontade de a repetir, quer pelo cheiro, quer pelos espinhos. Segundo o chef Caio, é uma comida que, no Brasil, ou se ama ou se odeia.
Preferimos a galinha assada com puré de abóbora caramelizada e caviar de quiabo. "É um elemento do nosso quintal de Minas Gerais", referiu o manda-chuva do Pacato. O "quintal mineiro" refere-se às famílias que tinham quintais nos quais desenvolviam uma cozinha para subsistência.
Para terminar, comemos uma "borboleta" com citrinos e cachaça saideira de Minas, cujo contraste entre doce e salgado a tornava ainda mais interessante. Este vislumbre da cozinha afetiva de Minas deixou-nos com ainda mais vontade de conhecer o estado.
O encontro gastronómico em questão contou com harmonização vínica, com referências de Minas, que está "a tentar criar identidade local". "Até ao fim do século XX não havia viticultura", menciona o chef Caio, destacando o sistema de dupla poda como essencial para esta "revolução em andamento".
A verdade é que os vinhos de Minas já ganham prémios. Bebemos referências como Mil Vidas Syrah Rosé 2023, Mil Vidas Sauvignon Blanc 2023, Modestus Syrah 2022, Gran Modestus, Gran Reserva Syrah 2022, cachaça saideira e cachaça erva doce, não fosse Minas Gerais o maior produtor de cachaça do Brasil.
"Todos no Brasil reconhecem que a cozinha mineira é a melhor do país"
"A comida mineira tem origens em Portugal, mas com alguns incrementos. Entendemos que Portugal faz parte da nossa história. Há muito de Minas em Portugal e muito de Portugal em Minas", referiu a Secretária da Comunicação Adjunta do Estado de Minas Gerais, Bárbara Botega, durante este almoço.
Para Bárbara Botega, "a cozinha é um dos melhores lugares para apresentar Minas Gerais". "Todos no Brasil reconhecem que a cozinha mineira é a melhor do país", afirmou. Para Caio Soter, é uma "comida farta, que enche a mesa e aquece o coração".
O chef responsável por um dos mais importantes restaurantes de Belo Horizonte destacou as adaptações feitas aos pratos mineiros com base nos portugueses. "Minas Gerais é conhecida no Brasil como a terra dos bons cozinheiros, da boa comida. Para um português de férias no Brasil, ir a Minas-Gerais é sentir-se em casa", acredita.
Minas Gerais tem-se tornado cada vez mais um destino turístico atrativo para os portugueses, que representam o segundo maior mercado emissor de turistas, com 44.670 registos em 2023 (e superando os números pré-pandemia).
O projeto "Minas em Portugal", que está atualmente a ser implementado, procura ampliar parcerias, estabelecer colaborações com cidades portuguesas e fomentar o comércio mineiro junto dos empresários locais.