Já percebeu pelo título que não ficámos a morrer de amores pelo Vila Valverde Design & Country Hotel. Em nome da transparência, nestas (e noutras) visitas, somos convidados pelas unidades hoteleiras. Não pagamos a estadia, não nos pagam para escrever. O que nos dá a liberdade para dizer isto: se pagássemos 280€ (preço por noite pela tipologia mais básica, com pequeno-almoço incluído, de acordo com simulação no site) para ficar neste hotel, ficávamos bem fulos da vida.

Situado na Praia da Luz, Lagos, o Vila Valverde Design & Country Hotel existe há uma década e, recentemente, foi redecorado por um dos nomes mais prestigiados do design de interiores, Nini Andrade Silva. E é aí que começa o problema. Se este é um trabalho da reputada designer, é um dos maus, porque a decoração mais parece uma amálgama de estilos e formas, do que propriamente uma ideia coesa.

Dos guerreiros mongóis misturados com budas à entrada à estranha figura feminina com aqueles ladrilhos tipo bola de espelhos de discoteca, passando pela quantidade absurda de sofás, mesinhas, cadeiras e bricabraque, mais parece que estamos numa loja de decoração onde os jogadores de futebol do início da década de 2000 iam buscar mobílias para decorar as casas do que num hotel de cinco estrelas. "Gostos não se discutem!", podem dizer. Lamentamos mas discordamos.

Até podíamos dar isso de barato se o empreendimento, uma quinta do século XIX transformada naquela que se orgulha de ser o único hotel rural de 5 estrelas do Algarve, fosse acolhedor. Mas não é. Nos espaços comuns, quando dá o sol, faz um calor que não se aguenta, mesmo com o ar condicionado ligado, e esta nova mania de ter ambientadores por todo o lado a espalhar perfume (a nossa embirração de estimação, admitimos), aqui foi levada ao extremo. Dá para um hotel cheirar só, sei lá, a limpo?

Antes de continuarmos, queremos ressalvar que fomos muito bem tratados por toda a equipa do Vila Valverde Design & Country Hotel. Simpáticos, prestáveis, amorosos. Nesse aspecto, absolutamente nada a apontar. Adorámos também o jantar (já lá vamos). O resto é que não correu tão bem.

Sim, a quinta é absolutamente fabulosa, os jardins luxuriantes e perfeitos para dormir uma sesta ou passear. A piscina, apesar de pequena, convida a banhos quando faz calor. Há estacionamento dentro da propriedade e, assim que se entra, é como se estivéssemos num retiro no meio da natureza, tal é a tranquilidade. O hotel tem apenas 15 quartos, o que faz com que nos sintamos num local exclusivo.

Mas o encanto desvanece-se assim que entramos no quarto. A banheira fica separada do quarto apenas por um vidro. Não há uma cortina, nada que dê sequer uma ilusão de privacidade quando a pessoa, estando acompanhada, quiser tomar banho sem ter plateia. Até pode ser muito estético mas nós trocávamos alegremente a estética por um momento de sossego no duche.

Assim como agradecíamos um compartimento da sanita com um bocadinho mais de espaço e não um cubículo claustrofóbico. E, se não fosse pedir muito, um autoclismo que não estivesse praticamente a desmaiar.

Outro pormenor, esse sim mais perturbador, tendo em conta que estamos num hotel de cinco estrelas. Há máquina de café no quarto, sim senhor, mas as cápsulas pagam-se. 2,50€ por cápsula. Não nos lembramos de ter estado num hotel, seja de 3, 4 ou 5 estrelas, com a lata de cobrar por café, habitualmente uma oferta de cortesia para os hóspedes. Mais valia não terem nada. Escusado será dizer que a visão do papelucho a dizer "2,50€" nos deixou logo com azia para o resto da estadia.

Aquando a remodelação, o Vila Valverde Design & Country Hotel trocou o pequeno-almoço buffet por serviço a la carte. O que, normalmente, é sinal de produtos mais frescos e menos desperdício, aqui revelou-se o que nos pareceu ser uma estratégia para poupar dinheiro. Um copo de sumo (nem um jarro sequer), um copo de água (eu sei que estamos no Algarve e os recursos hídricos são escassos mas, caraças, nem uma garrafinha para duas pessoas?), um chávena de café, um copinho de fruta, um copinho com iogurte (caseiro e muito bom), um prato de fruta, 4 rosetas de manteiga. E uma quantidade absurda de pão, bolos e folhados. Os bolos não estavam frescos, os folhados também pareciam não estar. Pedimos queijo, veio um pratinho com uma seleção de fatias. Pedimos ovos mexidos com bacon. O prato trazia uma fatia solitária de bacon. UMA. Se ficámos com fome? Não senhor, não ficámos. Mas reiterámos uma certeza: a avareza é um pecado capital.

A nossa experiência ao jantar, no restaurante Alecrim, foi verdadeiramente positiva. O creme de coentros, bacalhau e requeijão (16€) estava delicioso. O ceviche de peixe da nossa costa (18€) também estava bom, embora precisasse de um pouco mais de acidez. O polvo glaceado (38€) estava tenro, a combinar na perfeição com a batata assada e os legumes. As bochechas de porco (30€), cozinhadas no vinho tinto, desfaziam-se ao toque do garfo, e combinavam na perfeição com o sedoso puré de batata doce. A sobremesa, o creme brulêe Alecrim (14€), uma versão descontruída da tradicional sobremesa, era deliciosa. O equilíbrio perfeito entre o doce do leite creme e a acidez da laranja.

Se voltávamos ao Vila Valverde Design & Country Hotel ? Não somos de dizer 'nunca'. Se recomendávamos a amigos? Vamos colocar as coisas nestes termos: conseguimos fazer uma lista de 100 sítios onde recomendaríamos gastar quase 300€ para dormir e tomar pequeno-almoço. E este hotel não entraria nessa lista.

Veja as fotos do Vila Valverde Design & Country Hotel

* a TRAVEL MAGG visitou o Vila Valverde Design & Country Hotel