
Estávamos a passear pelo Instagram e, de repente, um vídeo captou-nos a atenção. Que praias desertas são estas? Onde ficam estas florestas luxuriantes e este mar azul? A legenda dos influencers de viagens Héctor Aguilar (The Travel Coach) e JuniorExplores deixou-nos ainda mais curiosos.
"E se eu lhe disser que existe uma ilha na Guiné Equatorial onde parece que o tempo parou… mas no bom sentido? As praias são tão virgens que, provavelmente, as suas pegadas serão as primeiras e as últimas do dia. Corisco não tem Wi-Fi potente, mas tem uma ligação excelente ao essencial: o presente."
Com cerca de 14 quilómetros quadrados, Corisco permanece quase desconhecida fora da Guiné Equatorial. Rodeada por manguezais, a ilha esconde praias de areia branca que só são acessíveis por barcos ou helicóptero. O único aglomerado urbano, Gobe, mantém ares de vila ribeirinha tranquila, com casas simples e mercado de peixe à beira da baía. A ausência de turismo de massa faz com que a companhia frequente do visitante seja a natureza e, ocasionalmente, os pescadores locais.
Com um clima tropical, floresta virgem e praias de areia branca, a densa vegetação cobre quase toda a ilha, intercalada por manguezais que cortam a mata. As praias, muitas vezes desertas e margeadas por coqueiros, são cenários perfeitos para o descanso: de areia fina e mar calmo, contrastam com a floresta fechada ao fundo.
Em cada entardecer, o sol põe-se por trás das palmeiras, tingindo o céu e o mar de cores quentes – reforçando a sensação de um paraíso selvagem pouco conhecido. A vida selvagem de Corisco é vibrante, com aves tropicais multicoloridas e pequenos primatas típicos dessas ilhas. Nos manguezais, caranguejos e peixes movimentam-se entre as raízes, e no mar podem surgir golfinhos ou tartarugas marinhas nas águas quentes. A pouca presença humana faz com que o habitat se mantenha íntegro: é comum ver ninhos de pássaros em troncos centenários, e estrelas-do-mar em piscinas naturais durante a maré baixa. Cada caminho no mato é um convite a explorar, dando ao visitante a sensação de descobrir um santuário natural escondido.
O nome da ilha deriva do português para “relâmpago”, lembrança dos navegadores lusos do século XV. Em 1648, Portugal criou a Companhia de Corisco, dedicada ao comércio de escravos, ergueu o forte de Ponta Joko e iniciou a exploração colonial. Mais tarde, em 1843, Corisco passou para o domínio espanhol, mas sempre permaneceu à margem das grandes rotas coloniais. Os povos locais, principalmente de etnia benga, preservam tradições ancestrais de pesca e artesanato, misturando heranças africanas e católicas em rituais e festas comunitárias. Na ilha restam apenas alguns vestígios dessas épocas — ruínas de construções coloniais e canhões enferrujados — que se confundem com o verde denso da mata.
Na vila de Gobe concentra-se o legado cultural de Corisco. Lá, estão expostas relíquias e monumentos que contam a história da ilha: destaca-se o primeiro mosteiro colonial da Guiné Equatorial e o Monumento da Cruz Branca, símbolo da chegada dos primeiros missionários claretianos. Ainda há uma Casa Cultural simples, que exibe objetos tradicionais benga e fotos da vida local. Entre os pequenos museus improvisados, vale procurar inscrições rupestres em Nandá — vestígios dos antigos moradores.
A gastronomia local baseia-se no que o mar oferece: peixe fresco e frutos do mar, acompanhados de banana-da-terra e mandioca, seguindo receitas mantidas de geração em geração. Corisco mantém-se fora do radar do turismo de massa, reforçando a exclusividade. Viajar até aqui é quase um rito de passagem: cada praia ou trilho percorrido coloca o visitante em contato direto com cenários quase intocados. Em pouco tempo percebe-se que cada pôr-do-sol ou nascer do dia são únicos. Mesmo um simples passeio entre Gobe e as praias vizinhas pode render encontros improváveis — talvez um bando de garças ao longo da costa. Nestas condições, o visitante tem a sensação de desbravar um segredo que a natureza tentou guardar.
Como chegar
A viagem exige visto e planeamento. Normalmente chega-se primeiro a Bata ou Malabo (os principais aeroportos internacionais) e depois voa-se para o Corisco Airport (OCS), inaugurado em 2011. O voo mais barato que encontrámos para a Guiné Equatorial, a partir de Lisboa, fixa-se nos 1275€ e implica fazer quatro escalas (Madrid, Marselha, Addis Abeba e Douala). Chegado a Malabo, pode chegar a Corisco por barco ou através de voos locais.
Também é possível ir de barco a partir de portos do Gabão ou da própria Guiné Equatorial continental. Na região continental, é exigida uma autorização para viajar por zonas turísticas do interior emitida pela Delegação Regional de Turismo ou pela Polícia Regional de Bata. Esta autorização é necessária para visitar as ilhas de Corisco e de Anonbó. Para mais informações, consulte o site da embaixada da Guiné Equatorial.
Onde ficar
A oferta hoteleira é muito limitada. Em Gobe há algumas pousadas e chalés simples ou opções de alojamento local. Calcula-se que a ilha acomode cerca de 100 turistas no total, com infraestruturas básicas. Prepare-se para conforto simples, muitas vezes em alojamentos familiares ou tendas ecológicas.
Quando ir
O melhor período para visitar Corisco é durante a estação seca (novembro a março), quando as chuvas diminuem e os trilhos ficam transitáveis. Evite os meses de chuva intensa (abril a outubro), que tornam o clima muito húmido. O calor é constante, portanto leve roupas leves, repelente e proteção solar.
Cuidados a ter
A Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante salienta que a vacina contra a febre amarela é recomendada para quem viaja para a Guiné Equatorial. Outras vacinas a considerar: cólera, febre tifóide, hepatite A, hepatite B, meningocócica tetravalente, poliomileite e raiva. Consulte o site do SNS para saber onde marcar a sua consulta do viajante.