
Os protestos em Barcelona, a taxa turística em Veneza, as obras de arte destruídas ou danificadas em museus, devido à urgência inconsequente de tirar aquela selfie, as regras de conduta em Albufeira. A democratização do turismo está, cada vez mais, a gerar problemas e revolta nas comunidades locais, que veem o seu dia a dia perturbado por visitantes.
Nas Dolomitas, um dos cenários mais icónicos dos Alpes italianos, a paciência também se esgotou. Agricultores e proprietários de terrenos em áreas como Seceda e Drei Zinnen decidiram instalar torniquetes e cobrar 5€ para aceder a alguns dos pontos mais procurados para fotografias instagramáveis. A medida surgiu como protesto contra as multidões que atravessam propriedades privadas, deixam lixo e danificam os prados. “Foi um grito de ajuda”, explicou o agricultor Georg Rabanser ao CNN, lamentando a ausência de apoio das autoridades locais.
A afluência impressiona: num só dia, 8 mil pessoas percorem rota de Seceda, segundo o "Independent". Nas últimas semanas, as redes sociais encheram-se de imagens de filas intermináveis, com milhares de turistas de telemóvel em punho à espera da fotografia perfeita. O presidente do Clube Alpino do Alto Adige, Carlo Zanella, foi ainda mais longe, defendendo que os influenciadores digitais deveriam ser banidos das montanhas e sugerindo que a taxa de acesso aumentasse para 100€.
A questão não é apenas estética ou ambiental. Segundo o Finestre sull’Arte, a situação já chegou aos tribunais italianos e alimenta o debate sobre a pressão turística e o papel das infraestruturas nas montanhas. Enquanto uns defendem medidas drásticas para proteger o equilíbrio natural, outros acusam os proprietários de quererem lucrar com o fenómeno.
No meio da polémica, os organismos de turismo locais tentam encontrar soluções. Em Val Gardena, foram contratados vigilantes para garantir que os visitantes não atravessam os prados e que respeitam as trilhas. “As coisas melhoraram significativamente e até o problema do lixo já não é tão grave como dizem”, afirmou Lukas Demetz, presidente do Santa Cristina Tourist Board, citado pela CNN.
Mas a discussão está longe de terminar. O governador do Tirol do Sul já pediu ao governo italiano medidas concretas para proteger os ecossistemas alpinos, enquanto noutros pontos de Itália se multiplicam restrições ao comportamento dos turistas, desde proibições de fumar na areia da Sardenha até multas para quem anda em tronco nu nas ruas da Toscana. Um sinal claro de que o turismo de massas, embora vital para muitas economias locais, deixou de ser um assunto meramente económico — é, cada vez mais, uma questão de sobrevivência cultural e ambiental.