O cenário é digno de um romance histórico: no alto de uma encosta em Ardegão, ergue-se o antigo Paço do Curutelo. É ali, no coração do Alto Minho, que o Grupo Vila Galé inaugurou, no passado sábado, 17 de maio, o seu mais recente hotel — um projeto que une o charme rural ao luxo contemporâneo, mas que chega com um detalhe menos encantador: parte da obra foi embargada pela câmara de Ponte de Lima, devido a alegada descaracterização do imóvel, como relata o JN.
O novo Vila Galé Collection Ponte de Lima Vineyards – Historic Country Resort Hotel, Conference & Spa representa um investimento de 20 milhões de euros e nasce da recuperação de um edifício classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1977. Ao projeto juntou-se o grupo Madre, de António Parente, com quem a Vila Galé também desenvolveu a componente vínica do hotel.
Com 69 quartos, spa Satsanga, piscinas interiores e exteriores, biblioteca, parque infantil, NEP Kids Club, salão de eventos com capacidade para 350 pessoas e dois restaurantes (incluindo o Massa Fina), o resort espalha-se por 57 hectares de campo minhoto. Há ainda uma capela, espaço museológico e uma adega integrada — onde já se produzem mais de 200 mil garrafas do vinho Paço do Curutelo, que pode ser provado pelos hóspedes e visitantes.
Um hotel com raízes no século XIV
A propriedade que agora renasce como destino de enoturismo tem raízes medievais profundas. A primeira referência documental surge em 1395, quando Nuno Viegas e a mulher, D. Inês Dias do Rego, criam o morgadio das quintas de Coucieiro e Curutelo. A torre, no entanto, só é referida mais tarde, em 1532, quando o 5.º Morgado de Coucieiro vende a propriedade ao duque D. Jaime. Este, por sua vez, entrega a casa-forte ao fidalgo João Rodrigues de Lago — um prémio pelos serviços prestados na conquista de Azamor, em Marrocos.
O edifício sofreu várias intervenções ao longo dos séculos, nomeadamente em 1867, altura em que foram abertas portas e janelas, modernizando a austera torre. Já em 1903, passou para as mãos de Valentim Ribeiro da Fonseca, capitalista de Esposende, que a comprou no Café Nicola, em Lisboa, como investimento e futuro lar para o filho. A propriedade esteve na mesma família até 2022.
Apesar da pompa da inauguração — com direito a bombos, gaitas de foles e presença do Secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado — parte das obras permanece suspensa desde outubro de 2024. A autarquia embargou os trabalhos após denúncias sobre possível descaracterização do castelo, tendo apenas autorizado o avanço de algumas áreas do projeto enquanto outras aguardam reavaliação.
Com este novo hotel, a Vila Galé reforça a sua aposta no enoturismo, juntando o Paço do Curutelo ao já conhecido Vila Galé Douro Vineyards e à marca de vinhos Val Moreira. A polémica pode ser temporária — mas a paisagem, a história e o vinho são para durar.
