O homem sonha, a obra nasce. Parece fácil em teoria, mas foram precisas quase duas décadas para que o projeto de Armando Martins se concretizasse. O engenheiro e empresário ligado ao ramo imobiliário, colecionador de arte moderna e contemporânea desde os 18 anos, sonhava há muito com um museu que pudesse dar ao público aquilo que só ele e os mais próximos, ao longo de quase 50 anos, viram: um espólio de mais de 600 obras de arte, criadas ao longo de mais de um século por artistas nacionais e internacionais.

Da aquisição do Palácio Condes da Ribeira Grande, na Rua da Junqueira, em Lisboa, à abertura do MACAM não foi um passo mas a inauguração acontece no dia 22 de março. De 22 a 24 de março, o museu estará aberto ao público, com entrada grátis, espetáculos musicais, performances e atividades para toda a família. Depois, o MACAM estará aberto todos os dias, exceto ao domingo. A entrada individual para a exposição permanente custa 8€, para a temporária 6€ e um bilhete combinado, que dará acesso às duas, terá o valor de 12€.

O MACAM é uma iniciativa 100% privada, como fez questão de frisar Armando Martins na visita de imprensa, esta segunda-feira, 17 de março. "Todo o projeto foi feito com capitais próprios e sem recurso a empréstimos. Resolvi não depender de rigorosamente ninguém". O novo museu da cidade de Lisboa não tem, assim, qualquer tipo de subsidiação estatal ou local.

Armando Martins, fundador e proprietário do MACAM, e Adelaide Ginga, diretora do museu
Armando Martins, fundador e proprietário do MACAM, e Adelaide Ginga, diretora do museu Armando Martins, fundador e proprietário do MACAM, e Adelaide Ginga, diretora do museu

Os hóspedes do hotel terão entrada gratuita no museu, que permitirá contemplar não só a exposição permanente como as duas temporárias. Para a abertura, e nos próximos seis meses, estarão em exibição "O Antropoceno: Em busca de um novo humano?", que reflete sobre a crise climática e a relação da humanidade com o planeta, e "Guerra: Realidade, Mito e Ficção", que explora as representações da guerra na arte. A curadoria é da responsabilidade de Adelaide Ginga, também diretora do MACAM, e de Carolina Quintela.

MACAM Hotel. "Quem dorme com uma obra de arte no quarto tem de a proteger"

58 quartos, 6 estúdios com acesso autónomo e uma suíte, situada no torreão. As unidades de alojamento do MACAM Hotel estão divididas entre o edifício Palácio Condes da Ribeira Grande, e a nova ala, um edifício moderno, de linhas rectas, cuja fachada está decorada com uma incrível instalação da ceramista Maria Ana Vasco Costa. Um túnel com néons, também ele uma instalação artística de José Drummond, criará uma ligação subterrânea entre os dois edifícios. O acesso exterior é feito pelo jardins, também decorado com peças de arte.

O mistério em torno do aspecto dos quartos aguça ainda mais a curiosidade, uma vez que não só não há imagens como durante a visita de imprensa ao MACAM, esta segunda-feira, 17 de março, não foi possível visitar as unidades de alojamento. Mas Adelaide Ginga, diretora do museu, levanta a ponta do véu, esclarecendo alguns detalhes sobre como vai ser dormir neste hotel dentro de um museu de arte contemporânea.

Independentemente da tipologia, cada quarto terá "de três a quatro" obras de arte originais da coleção de Armando Martins, emolduradas ou protegidas por um acrílico. "Quem dorme com uma obra de arte no quarto tem de a proteger", afirma Adelaide Ginga. A diretora do MACAM esclarece que os hóspedes não terão de assinar termos de responsabilidade mas que será antes feita uma sensibilização. "Gostava muito que eles percebessem que são, de facto, guardiões. Enquanto ali estiverem têm a seu cargo uma obra que devem proteger, como quando a temos em casa. É o privilégio de privar com essas obras", salienta a diretora do MACAM.  "Vamos tentar ter um documento que sensibilize e que explique o funcionamento deste projeto muito único. Explicar que vão para um hotel mas que estão a entrar num museu, desde o início", acrescenta ainda Adelaide Ginga.

Embora a tarifa média diária ainda esteja a ser definida, Armando Martins avança que o preço base por noite, nos quartos mais acessíveis, se situará "entre os 300€ e os 400€". O empresário destaca que "no palácio, não há um quarto igual ao outro", pelo que isso resultará em cerca de 21 tipologias diferentes, devido às características únicas do edifício do século XVIII.

O hotel não é a única valência da marca MACAM. O espaço vai ter também um restaurante, o Contemporâneo Food & Wine, o MACAM Café e ainda uma capela dessacralizada, convertida em bar, que vai ser palco de artes performativas, performances e concertos (e que conta já com uma impressionante instalação do artista espanhol Carlos Aires, com um Cristo em chamas no lugar do antigo altar).

Obra de Carlos Aires no bar do MACAM, uma antiga capela, agora dessacralizada
Obra de Carlos Aires no bar do MACAM, uma antiga capela, agora dessacralizada Obra de Carlos Aires no bar do MACAM, uma antiga capela, agora dessacralizada créditos: MACAM

A gastronomia do MACAM Hotel tem a direção executiva do chef Tiago Valente, que irá criar propostas que cruzam a reinvenção da comida tradicional portuguesa com inspiração nas obras de arte do museu. Armando Martins destaca também o trabalho desenvolvido por Lara Figueiredo, chef de pastelaria do MACAM.

"Colecionar arte é uma droga, embora seja uma droga boa", confessa Armando Martins. A partir de 22 de março, a dependência que lhe alimenta o espírito está à vista para toda a gente ver e desfrutar.

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MACAM Hotel
Rua da Junqueira, 66 1300-343 Lisboa
Contactos: macam@macam.pt
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