Há imagens que parecem repetir-se com o passar dos anos. Uma chaminé solitária em cima da Capela Sistina, câmaras apontadas, o mundo em suspense à espera de fumo branco… e uma gaivota. Ou duas. Ou, este ano, até com um filhote. As aves voltaram a instalar-se nos telhados do Vaticano durante o Conclave de 2025, o processo que decorre para eleger o novo Papa após a morte de Francisco, a 21 de abril, aos 88 anos.

Gaivotas com cria no primeiro dia do conclave, esta quarta-feira, 7 de maio
Gaivotas com cria no primeiro dia do conclave, esta quarta-feira, 7 de maio Gaivotas com cria no primeiro dia do conclave, esta quarta-feira, 7 de maio

Mas o que fazem ali gaivotas, se Roma fica a mais de 30 quilómetros do mar mais próximo? A resposta envolve um pouco de biologia, um pouco de urbanismo… e uma boa dose de descaramento animal.

Apesar de tradicionalmente associadas ao mar, as gaivotas — especialmente a espécie Larus michahellis, a gaivota-de-patas-amarelas, comum no Mediterrâneo — têm-se adaptado com facilidade ao meio urbano. Roma, com os seus telhados planos, monumentos imponentes e uma boa quantidade de comida disponível (ou seja, lixo em abundância), tornou-se um habitat confortável. Estima-se que existam mais de 10 mil gaivotas a viver permanentemente na cidade, algumas com ninhos em locais improváveis como o Coliseu, o Panteão ou os telhados da Basílica de São Pedro. E são tantas que já em 2014 a BBC escrevia que estas aves eram consideradas uma praga na capital italiana.

Durante o Conclave, este comportamento torna-se ainda mais visível. Este ano, os diretos televisivos captaram várias gaivotas pousadas na Capela Sistina, incluindo uma cria, que se tornou estrela nas redes sociais. As imagens correram o mundo e geraram milhares de comentários nas redes sociais.

Não é a primeira vez que isto acontece. Em 2013, como recorda "O Globo", quando foi eleito o Papa Francisco, uma gaivota pousou durante vários minutos na chaminé da Capela Sistina e roubou protagonismo ao próprio fumo, tornando-se meme instantâneo. Desde então, estas aves quase parecem fazer parte do cerimonial.

Segundo biólogos urbanos, a presença das gaivotas é totalmente natural: estas aves procuram locais elevados, longe de predadores e com boa visibilidade — e os telhados do Vaticano oferecem tudo isso. São também animais extremamente atentos e oportunistas, habituados à presença humana e aos seus hábitos, nomeadamente… roubar comida.

Enquanto os 133 cardeais continuam reunidos a portas fechadas para escolher o próximo líder da Igreja Católica, as gaivotas mantêm-se nos telhados, vigilantes. Se serão elas a trazer o primeiro sinal do novo Papa, ainda não se sabe. Mas uma coisa é certa: se houver fumo branco, elas terão vista privilegiada — e, provavelmente, mais uma vez, o protagonismo inesperado.

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