
Em que é que se pensa quando se pensa em Amarante? Os mais alternativos recordarão de imediato o MIMO, o festival de música gratuito que, de 19 a 21 de julho, volta a dar vida às ruas da cidade. Os amantes de História falarão da ponte, da igreja e do mosteiro de São Gonçalo. Quem procura natureza e diversão ao ar livre mencionará o rio Tâmega e o Parque Aquático de Amarante. Já os mais marotos (e gulosos) irão direto ao célebre doce fálico de São Gonçalo — também conhecido por São Gonçalos ou, em tom mais popular, Colhões de São Gonçalo — uma iguaria irreverente que vale mesmo a pena provar. E para os apaixonados por luxo, a referência será, sem dúvida, a Casa da Calçada: o icónico hotel de cinco estrelas, recentemente renovado, pertencente à prestigiada cadeia Relais & Châteaux e que alberga o Largo do Paço, um restaurante de fine dining com reputação bem consolidada.
Seja qual for o motivo para visitar Amarante, o importante é mesmo ir. Fomos — e confessamos a vergonha de ainda não termos conhecido esta cidade encantadora, uma verdadeira joia escondida que, na verdade, está longe de passar despercebida. Basta ver a quantidade de turistas que percorrem as suas ruas empedradas, formam filas para fotografar a ponte, o casario ou o Tâmega em fundo.
Fomos… mas não fomos sozinhos.
O nosso amiguinho Box levou-nos até Amarante
Estrada fora, com Amarante no GPS e café no porta-copos, lá fomos nós ao volante do Dongfeng Box — um elétrico compacto com nome de robô dos desenhos animados e aspeto de carrinha futurista em miniatura. Durante dois dias, foi o nosso fiel companheiro de estrada, sempre pronto a arrancar em silêncio e a estacionar nos lugares mais apertados como se fosse um gato elétrico domesticado. Custando a partir de 24.990€, o Box apresenta-se como uma opção simpática e relativamente acessível para quem quer entrar no mundo dos elétricos sem ficar a pão e água.
Na cidade, portou-se como um verdadeiro local: ágil, leve, fácil de manobrar e sem grandes queixas quando o trânsito apertava ou as ruas ficavam mais estreitas. Os comandos são simples, quase intuitivos, e o conforto a bordo é mais do que suficiente para nos sentirmos em casa (ainda que os acabamentos interiores não ganhem nenhum prémio de sofisticação — mas também, quem é que anda a espreitar painéis enquanto conduz?). O ecrã tátil de 12,8 polegadas faz boa figura no centro do tablier, os bancos em pele sintética não deixam as costas a reclamar e só sentimos mesmo falta de… rádio. Sim, o Box não tem rádio. Ficámo-nos pelo Spotify ligado via Bluetooth, o que, sejamos honestas, também não foi nenhum drama — mas sentimos a falta daquele scroll preguiçoso pelas estações locais.
Já na autoestrada… digamos que se notou que o Box prefere a cidade. A autonomia anunciada é de 310 km, o que chega e sobra para a maioria dos trajetos urbanos — e quando é preciso carregar, bastam 30 minutos para passar dos 30% aos 80% numa estação de carregamento rápido. Ideal para um café reforçado e um scroll no Instagram. Não é o carro mais entusiasmante para grandes viagens, mas é competente, eficiente e tem aquele ar simpático de quem diz: “Levo-te onde quiseres, desde que não seja muito longe.” E nós, sinceramente, não nos importávamos nada de o ter à porta todos os dias.
5 coisas que fizemos em Amarante
1. Pernoitar no Hotel Navarras
Este é o hotel que prova que resistir à passagem do tempo também pode ter charme. O Hotel Navarras celebra 40 anos e acaba de ganhar nova vida com a gestão da Amazing Evolution. Continua simples, funcional e perfeito para quem quer ficar a dois passos — literalmente — do centro histórico de Amarante.
Os quartos são espartanos mas simpáticos, ideais para famílias ou grupos, e o edifício tem aquele ar kitsch irresistível de um centro comercial dos anos 80. Com 58 quartos equipados com ar condicionado, televisão por cabo, Wi-Fi gratuito e casa de banho privativa, o hotel oferece o essencial para uma estadia agradável. A cereja no topo do bolo? O pequeno-almoço é servido no último andar, com vista para os telhados da cidade — um bom ponto de partida para um dia que se quer bem vivido.
2. Visitar a Igreja e Convento de São Gonçalo (e subir à torre sineira)
É impossível chegar a Amarante e não dar de caras com este conjunto monumental que domina a paisagem sobre o Tâmega. A Igreja e Convento de São Gonçalo começaram a ser construídos no século XVI, por ordem de D. João III, no local onde o santo eremita viveu e foi sepultado. O edifício atravessa vários estilos arquitetónicos — do renascimento ao barroco — e inclui uma impressionante fachada, um belo claustro e, claro, o túmulo de São Gonçalo, que continua a ser destino de promessas, sobretudo relacionadas com o amor e o casamento.
O interior é rico em talha dourada e guarda uma forte ligação à identidade da cidade. Mas é no exterior que a grandiosidade do monumento mais se impõe: a igreja está mesmo colada à ponte de São Gonçalo, criando um dos postais mais icónicos de Amarante. Aqui também se sente o peso da história — foi nesta ponte que os amarantinos resistiram às invasões francesas em 1809.
A subida à torre sineira é opcional, mas vale cada degrau. Por apenas 2€, é possível aceder à escadaria estreita e íngreme que leva ao topo da torre. Lá em cima, a vista sobre o centro histórico e o rio é deslumbrante — especialmente ao fim da tarde, quando a luz dourada se espalha pelos telhados da cidade. Um esforço pequeno para um dos melhores panoramas de Amarante.
3. Tirar a foto da praxe na ponte de São Gonçalo com o Tâmega em fundo
A ponte de São Gonçalo não é só um dos cartões-postais de Amarante — é também um símbolo de resistência e história. Construída no século XIV, esta ponte medieval ligava as margens do rio Tâmega e teve um papel crucial durante as invasões francesas no início do século XIX, quando os amarantinos se organizaram para impedir a passagem dos exércitos napoleónicos. Desde então, a ponte tornou-se um marco da identidade local, uma ponte não só física, mas também cultural e histórica.
Hoje, atravessá-la é quase um ritual para quem visita a cidade. Com a sua arquitetura robusta em pedra, os arcos elegantes e o casario colorido a acompanhar o rio, a ponte oferece um cenário perfeito para fotos memoráveis. É o spot ideal para a foto da praxe — aquela imagem que traz o Tâmega como pano de fundo e que, seja em manhãs calmas ou ao pôr do sol, capta a essência de Amarante.
Para conseguir a melhor fotografia, o conselho é simples: vai cedo, para evitar as multidões, ou à tardinha, quando a luz dourada realça as cores do casario e a serenidade do rio. E não te esqueças de atravessar a ponte devagar — sentirás toda a história sob os teus pés.
4. Lanchar na Confeitaria da Ponte (e provar um São Gonçalo, sem corar)
Depois de passear pela rua pedonal que acompanha o Tâmega — entre lojas de artesanato, galerias e esplanadas — há um ritual que não pode faltar: parar na Confeitaria da Ponte para um lanche com vista. Fundada em 1930, é a mais antiga casa de doces regionais da cidade e continua a ser um clássico. A localização, mesmo em frente à ponte e ao mosteiro, é imbatível. E sim, costuma ter fila à porta — mas vale a pena esperar.
A especialidade da casa são os doces conventuais típicos da região, como as Lérias, as Brisas do Tâmega, os Papos de Anjo e os Foguetes. Mas o mais famoso (e fotografado) é o São Gonçalo, um doce de forma fálica que arranca sempre risos nervosos e olhares curiosos. Inspirado numa tradição antiga ligada à fertilidade e ao santo padroeiro, tornou-se um ícone irreverente da cidade. Diz-se que as mulheres ofereciam estes doces aos homens em idade de casar — hoje, são mais um símbolo bem-humorado e muito procurado pelos visitantes.
Embora a Confeitaria da Ponte seja o lugar mais emblemático para provar os São Gonçalos, não é o único. Também pode encontrá-los noutras pastelarias da cidade, como a Confeitaria O Moinho ou a Confeitaria Tinoca — ideais para quem quiser levar uma lembrança doce (e provocadora) para casa.
5. Jantar no Ciao Tílias (e terminar o dia com sabor a Itália)
Para fechar o dia em grande, nada como um jantar no Ciao Tílias, um dos restaurantes mais bonitos e apetecíveis de Amarante. Com vista sobre o centro histórico e o Tâmega, cenário perfeito para uma noite que pede boa comida e ambiente descontraído.
Começámos com uma bruschetta em pão caseiro (10€), seguida de um spaghetti alla carbonara (14€), cremoso q.b. e com a massa cozida como deve ser: al dente. Para sobremesa, claro, houve tiramisù (7€) — e este passou com distinção no nosso exigente teste. Ainda houve tempo (e vontade) para um cocktail de autor: a Ciao Margarita (10€), que nos deixou no mood certo para regressar ao Hotel Navarras e adormecer com um sorriso.
A carta é feita de clássicos reconfortantes, o ambiente é acolhedor e o serviço é atento sem ser intrusivo. É o tipo de lugar onde apetece voltar — não só pela comida, mas pela forma como tudo sabe ainda melhor com aquela vista.