Vamos já falar do elefante na sala. Quando falamos da marca Solverde, nos tempos que correm, a maioria das pessoas vai logo fazer a associação à empresa que foi de Luís Montenegro, atual primeiro-ministro. Nós sabemos disso e temos a certeza de que a Solverde sabe disso. É o que é, e, depois de referirmos o tema, vamos ao que interessa: os hotéis, uma das áreas de negócio da empresa da família Violas.
Na área da hotelaria, o grupo Solverde detém o Hotel Algarve Casino, o Hotel Casino Chaves, o Hotel Apartamento Solverde e o Solverde Spa & Wellness Center. Este último está numa localização única, mesmo em cima da praia de São Félix da Marinha, em Gaia, e com acesso direto ao areal. E foi precisamente este hotel, um colosso visual e bastante conhecido do público por ser o local de estágio preferencial do FC Porto, que visitámos. Não sabíamos bem o que esperar, mas o pouco que esperávamos foi largamente superado.
Há um elemento de encanto, familiaridade e aconchego neste tipo de hotel, inaugurado em 1989 e típico dos anos 90, com espaços megalómanos: dos jardins aos quartos, passando pelo lobby, pelas salas de refeições, pelas cadeiras e pelas piscinas — interior e exterior — e até pelo acesso direto à praia. Sou suspeita: não só sou da zona como sou defensora acérrima dos benefícios das praias do litoral norte. Aos que argumentam que as águas marítimas são frias, eu respondo: para quê pagar centenas de euros por um workshop de banho gelado quando podem ter isso de borla em São Félix da Marinha, com a vantagem de respirarem ar iodado, que revitaliza e rejuvenesce? Quanto às temperaturas, o meu lema é este: o norte é o Algarve com um casaquinho de malha. É enfrentar e usufruir.
De volta ao Solverde Spa & Wellness Center.
Fiquei instalada numa incrível suíte com vista mar (286€ por noite), muito bem decorada num estilo entre o clássico e o contemporâneo e com uma enorme varanda sobre o oceano. O tamanho das divisões, desde a sala até ao quarto, faz com que, por este preço, estejamos a pagar uma pechincha. E estamos, lembro, num hotel de cinco estrelas em cima da praia, a uns 15 minutos do Porto.
Um dos aspetos que mais me encantou nesta unidade do grupo Solverde é a ausência de pseudo-luxos, como amenities de marcas caríssimas que, depois, quando a pessoa vai usar, têm a mesma qualidade de um champô ou gel de banho de supermercado (tema para toda uma outra crónica). Aqui não há nada disso, só o mais básico, e não faz grande falta. A casa de banho é enorme e bem iluminada. A vista vale praticamente tudo, e o quarto até podia nem ser o mais confortável que, ainda assim, compensaria. Não é o caso e, admito, aproveitei para dormir uma soneca no sofá antes de ir relaxar para o spa (vidas difíceis, eu sei, mas alguém tem de as ter).
E por falar em spa, a aposta no wellness, em particular nos tratamentos de talassoterapia, é a grande estratégia do Solverde Spa & Wellness Center. Uma forma de atrair outros públicos e também de ter uma oferta diferenciada para os meses mais parados. Claro que, durante os meses de verão, a grande atração deste hotel de cinco estrelas é a piscina de água salgada e aquecida situada no exterior, rodeada de um confortável relvado. Mas, no interior, há também motivos para relaxar ou passar uma tarde ou manhã divertida com os miúdos. A piscina interior, também salgada, é perfeita para o tempo mais frio.
O hotel propôs-me desfrutar do Programa Especial de Equilíbrio & Renovação – Alma Oceânica. Comecei com 25 minutos no termo-spa, que consiste numa marquesa com jatos de água que massajam o corpo sem necessidade de molhar (35€). Não achei particularmente relaxante, uma vez que o barulho da máquina se sobrepõe à música ambiente. Depois, iniciámos o ritual Mar Morto Desintoxicante (110 minutos, 180€). Começou com o circuito de hidroterapia num tanque de água salgada, seguido de envolvimento de algas e massagem desintoxicante do Mar Morto, com produtos Thalgo. A terapeuta Cristina foi exímia não só na explicação de cada momento da massagem como também em perceber as minhas necessidades pessoais (pernas inchadas, retenção de líquidos). Entrou diretamente para o meu top 5 de melhores massagens que já recebi.
Depois do relaxamento, tinha chegado a hora temida. No restaurante O Jardim, foi-nos dada a opção de buffet ou de escolher à carta. Admito que a palavra "buffet" me faz sempre temer comida enfarta-brutos, demasiado salgada e confecionada em doses industriais, mas este foi uma agradável surpresa. Além de ter comido um dos melhores croquetes da minha vida, todas as propostas frias, desde a salada de ovas até a uma deliciosa tortilha (que repeti umas três vezes), passando pela salada de bacalhau, estavam bem executadas e temperadas, muito frescas. Até um dos pratos quentes, ao qual torci inicialmente o nariz, estava perfeito. Uns bifinhos de peru com ananás grelhado estavam suculentos, bem grelhados e com a temperatura certa.
Um dos funcionários, daqueles que já faz parte da casa e que trata com familiaridade factual os hóspedes frequentes, informa-me que tenho de voltar para experimentar o buffet de domingo. Que — algo que eu não sabia — é uma tradição do hotel e tem uma lista de espera de várias semanas. "Tem coisas mais light como cozido e tripas à moda do Porto", diz-me. Parece-me um ótimo programa para regressar no outono.
Enquanto janto, o sol põe-se e a neblina de que fala Rui Veloso em "Porto Sentido" começa a surgir no horizonte. Este encanto que se aprende a gostar só existe aqui. Este frio que aquece a alma e que se aprende a apreciar revigora o corpo e rejuvenesce. Um sinal indicativo de que um hotel é um bom hotel é a presença de clientes que, pela forma como se instalam e ficam, pela familiaridade das conversas com os funcionários, voltam aqui há vários anos. E foram essas conversas que, aqui e ali, bisbilhotei e que me fizeram sentir em casa.
Depois de uma noite de sono retemperador, chegou o momento menos memorável desta estadia curta, mas muito prazerosa: o pequeno-almoço. É funcional, mas bastante estandardizado e sem grande brilho. Compreende-se, dada a dimensão do hotel e o elevado número de hóspedes, que não haja espaço para grandes personalizações, mas teria sido agradável encontrar algum toque regional — uma regueifa branca, por exemplo. No fundo, só uma pequena gracinha que lhe desse personalidade.
Veja as fotos do Solverde Spa & Wellness Center
Wellness, spa e anti ageing são as grandes apostas do hotel
Wellness, spa e anti-aging são as grandes apostas do hotel
As vertentes de wellness e spa são as principais apostas do Solverde Spa & Wellness Center para os próximos meses. A oferta diferenciada, com programas mais completos, começou durante o verão e o grande objetivo é que se torne um dos atrativos durante os meses de inverno, como explica à TRAVEL MAGG Catarina Vaz, diretora geral do hotel.
Atualmente, os clientes garantidos são corporativos, famílias, congressos e eventos, mas o hotel ambiciona crescer na procura por spa e wellness. “Queremos que seja motivo de procura. Quem vem tem de encontrar experiências mais completas e a adesão está a ser boa”, afirma Catarina Vaz. O hotel tem sido alvo de renovações constantes, mantendo sempre a sua base, e pretende revitalizar o conceito da região, conhecida pela qualidade do ar iodado e pelo bem-estar, que historicamente atrai visitantes do Porto para a Granja e Miramar.
Para os períodos mais calmos, o Solverde quer criar uma oferta estruturada, combinando programas de wellness com opções alimentares mais saudáveis ao pequeno-almoço. “A partir de setembro vamos combinar estes programas com opções mais saudáveis. Devido à dimensão do hotel, é complexo oferecer produtos específicos para wellness, mas já temos opções como pequenas porções de aveia, bagas de goji, sementes e leite sem lactose…”, revela a diretora. No buffet, foram introduzidas poke bowls e tostas de abacate, numa tentativa de equilibrar as preferências dos clientes tradicionais com estas novidades.
O spa, criado há cerca de 15 anos, tem vindo a focar-se em produtos diferenciados, especialmente na talassoterapia. Catarina Vaz destaca que “não há mais nenhum hotel de cinco estrelas à beira-mar até à Figueira da Foz. Na zona norte, somos os únicos, para já, e isso é uma mais-valia”. O mercado principal tem sido o nacional, embora, após a pandemia, tenha-se notado uma maior proximidade entre a data de reserva e a estadia. Regista-se também crescimento nos mercados norte-americano, canadiano e europeu, enquanto o mercado espanhol decresce devido à mudança do perfil económico dos visitantes. O Solverde pretende assim valorizar a talassoterapia e criar ofertas estruturadas, ligadas ao anti-aging, wellness e talassoterapia, convidando os hóspedes a experienciar esta oferta diferenciada.
Catarina Vaz reconhece que “não é uma tarefa fácil” vender um local à beira-mar onde o mar nem sempre é convidativo devido às temperaturas. No entanto, explica que quem procura o hotel não o faz apenas pela praia, mas sobretudo pela piscina de água salgada e pela proximidade com o Porto, embora a quantidade de pessoas que vão efetivamente à praia seja “muito diminuta”.
* a TRAVEL MAGG visitou o Solverde Spa & Wellness Center a convite do hotel